A ética kantiana carateriza-se pelo papel fundamental que o
conceito de dever assume no
centro da sua arquitetura conceptual. Assim, uma
ação valiosa do ponto de vista moral é, segundo Kant, aquela que se realiza
segundo o dever e não conforme o dever. O sujeito moral age segundo o dever, realiza as coisas certas pelos motivos certos. O que se distingue daquele que
age conforme o dever, isto é, poderá fazer as coisas certas mas pelas razões erradas.
Por exemplo, age segundo o dever o comerciante que não engana os seus clientes
porque considera que é assim que se deve agir. Age conforme o dever, por
exemplo, o comerciante que não engana os seus clientes porque teme ser descoberto
e, em consequência, perder a clientela. Estas ações são semelhantes do ponto de
vista externo, mas diferem no princípio que cada um dos sujeitos elegeu como
determinando a sua ação. Complicado?... O meu pequeno pinscher Gipsy dá-nos uma
ajuda!... Outro dia, à noite, enquanto conversava com um vizinho, o Gipsy
resolveu depositar um cocó junto de uma árvore. O meu vizinho aconselhou-me a
não ligar, porque era um cocó insignificante e servia de fertilizante para a
árvore. Era verdade, mas eu achei que devia apanhar o cocó do Gipsy. O meu
vizinho tinha razão, mas eu devia fazer o que era correto. Agi segundo o dever.
Mesmo que o cocó do Gipsy seja biodegradável e ridículo face ao lixo que se
acumula na via pública na freguesia de Benfica, o dever impõe-se ao sujeito
moral, independentemente das consequências irrelevantes das nossas ações. Por
essa razão que, embora o comportamento de alguns deputados não tenha ferido
nenhum dispositivo legal, poderá ser questionável do ponto de vista ético. É
que tudo se passa e resolve na consciência de cada um. Mesmo que se trate de
cocós insignificantes ou de viagens de deputados.
Parece "fácil" mas, não é. Claro que "definir" ou explicar a noção de Ética segundo Kant, obriga-nos a pensar, exactamente, palavra por palavra o que significa ou difere "segundo o dever e não conforme o dever". Obriga-nos a usar a palavra exacta e saber o que ela significa. O exemplo do seu Gipsy ( acho graça chamar-lhe cigano..) torna tudo mais entendível e a alusão à legalidade ou ética dos deputados insulares e outros está muito bem observada. Maria Gabriela
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