quinta-feira, 22 de junho de 2017

A coleira extensível





            A Dona Belarmina, viúva, moradora da Praça da Alegria, em Lisboa, adquiriu um cãozinho passados cinco anos após o falecimento do seu saudoso companheiro. Estiveram casados mais de quarenta anos e, como não tiveram filhos, a súbita morte do marido fez abater sobre a Dona Belarmina uma onda enorme de solidão que estava prestes a afogá-la. Recordou-se, então, do avisado conselho do seu Paulino: «Se eu partir primeiro, compra um cão para te fazer companhia.» Belarmina não suspeitava que o conselho do marido apenas pretendia evitar que o seu lugar pudesse ser ocupado por outro; imaginava que um cão bastaria para afugentar qualquer pretendente que, face à viuvez de Belarmina, se visse acirrado para a conquista ou reconquista, nunca se sabia.
Porém, Dona Belarmina apenas queria afastar a solidão. Além disso, também se apercebera que muitas das suas amigas também tinham animais de companhia. Foi neste contexto que se decidiu pelo Piruças, um irrequieto caniche, cujas traquinices muito divertiram a sua dona nos primeiro tempos. De tal maneira ria com ele e por causa dele que chegou a temer que se estivesse a exceder para lá do que era recomendável, tendo em conta sua condição de recém viúva.
 O Piruças, como qualquer cão traquinas, gostava muito de correr. Quando se apanhava no jardim, à tarde, o Piruças divertia-se correndo atrás dos pombos, dos gatos e, obviamente, atrás de outros cães. Dona Belarmina tentava em vão acompanhar essas correrias. E, ofegante, acabava a chamá-lo o mais alto que podia, tentando fazê-lo regressar até junto da sua dona. Até porque o Piruças distraía-se muito facilmente e não reparava nos carros que circulavam junto do parque. Por várias vezes, Dona Belarmina ficou sem pinga de sangue ao assistir a travagens súbitas e violentas dos automóveis, evitando atingir o Piruças. A chiadeira dos pneus no asfalto era como que um uivo angustiante que Dona Belarmina decidiu não mais ouvir. Foi por isso que decidiu adquirir uma coleira eficaz que evitasse essas situações. Mas como também era incapaz de impedir o seu Piruças de fazer o que mais gostava, que era correr, teve que optar, aconselhada pelas suas amigas, por uma coleira extensível, o último grito em coleiras. E, neste campo, fez questão de pedir na loja da especialidade, a maior coleira extensível que tivesse. Mesmo que fosse para um pequeno cão como o Piruças. Belarmina, levando consigo, ao colo, o Piruças, explicou de forma categórica o que pretendia, usando um tom de firmeza aristocrática com pergaminhos que abafou os risinhos dos empregados da loja que, entretanto, tinham parado para escutar melhor aquela estranha cliente.
«Eu quero o que houver de melhor em matéria de coleiras extensíveis. O melhor, quer dizer, o mais seguro e o mais comprido.»
O próprio dono do estabelecimento, «Aires – acessórios para animais de companhia e outros», fizera questão de a atender. Fixou as mãos abertas em cima do balcão e apoiando o corpo nos braços, um pouco inclinado sobre a cliente, mas acabou por recuar ligeiramente face àquele pedido. Quer dizer, face àquela ordem. Depois dirigiu-se ao computador.
«Acho que temos o que pretende. Acaba de sair. Mas tem de vir de fora… Da China!» E continuou a teclar rapidamente, meio oculto pelo monitor da máquina. «Su-zen La… coleiras extensíveis infinitas…Su-zen La, Xangai.» Parecia um feiticeiro, a debitar uma fórmula mágica, num dialeto desconhecido. Depois soltou uma gargalhada. «Infinita? Uma coleira infinita?... Esta publicidade exagerada…» Mas Dona Belarmina não se deixara impressionar.
«Desde que corresponda àquilo que eu quero, até pode vir da… Rússia. Quero a melhor coleira extensível que existir no mercado!»
Os ajudantes aproximaram-se por detrás do patrão e foram espreitando, curiosos, os resultados da busca na Internet por coleiras extensíveis, pelo melhor que houver em matéria de coleiras extensíveis.
Isto foi o que a Dona Belarmina tinha como explicação aceitável, porque era incapaz de confessar que não tinha conseguido resistir à coleira extensível que vira ser usada por uma sua amiga, a Dona Efigénia. A Dona Belarmina conhecia a Dona Efigénia desde os bancos da escola. E sobre as relações entre as duas não se pode dizer que fossem as melhores. Chegaram até a disputar o mesmo rapaz, com vantagem para a Dona Efigénia que o conseguiu conquistar e, por fim, casar. Embora aqui se deva dizer que a Dona Efigénia casou com ele, temendo que se o largasse a Belarmina o pudesse agarrar. Só descansou quando Belarmina casou com Paulino. Porém, Efigénia achava que a Belarmina, a invejosa Belarmina, nunca se esquecera dessa disputa. Havia, por isso, uma guerra antiga, um clima de guerra surda entre as duas. E quando a Efigénia apareceu no jardim com uma coleira extensível, Belarmina nunca mais sossegou até descobrir onde se vendiam e acabar por comprar uma. Claro que tinha de ser a melhor. E a maior que havia. E a mais cara! Desconhecendo que uma encomenda destas vinda da República Popular da China poderia ser fatal. Como foi.
A coleira extensível chegou passadas duas semanas, duas angustiantes semanas. Nesse dia, a seguir ao almoço, Dona Belarmina anunciou às amigas, fixando especialmente a Dona Efigénia, que ía ao fim da tarde à loja, ao estabelecimento «Aires – acessórios para animais de companhia e outros», buscar a coleira extensível para o Piruças. «A coleira extensível que veio da China?», perguntou uma das senhoras. Dona Belarmina confirmou, como se outra coleira vinda de outro sítio do mundo, fosse inapropriada para o seu cãozinho. «Para o meu Piruças, só mesmo produtos da China! Da China mesmo de Xangai, não de uma loja dos trezentos!» As amigas concordaram, acenando com a cabeça. A Dona Efigénia fingiu que não tinha ouvido. A Dona Belarmina agarrou-lhe o braço: «Já sabe?... Vou buscar a coleira extensível do Piruças! A coleira chinesa!» A Dona Efigénia resmungou que já tinha ouvido, que ouvia bem, muito bem, que não era surda.
Piruças nunca tinha sentido no seu pescoço uma coleira e manifestou com rispidez a sua estranheza, nos primeiros dias.
Dona Belarmina fazia questão de lhe repetir, para que todos ouvissem:
«Bem, Piruças, é uma coleira Su-zen La, feita em Xangai! Nada de caprichos, que gastei mais de 400 euros!»
E, segurando no Piruças, olhava à sua volta, observando o efeito das suas palavras. As amigas já as conheciam de cor e algumas já nem podiam ouvir os gritinhos esganiçados de Dona Belarmina, chamando o Piruças e elogiando as qualidades técnicas da coleira extensível made in Xangai, adquirida na loja do senhor Aires.
Durante muitas tardes, o Piruças divertiu-se, apesar daquela situação estranha à volta do seu pescocito, mais do que era costume, utilizando a nova coleira extensível. Mercê da sua extensibilidade enorme, Piruças podia deslocar-se cada vez mais longe, saindo do campo de visão da sua dona. Esta, contudo, estava descansada: no folheto de apresentação das coleiras Su-zen La, falava-se duma capacidade quase infinita, testada nos opositores do regime, nomeadamente no tempo do bando dos quatro. Belarmina nunca tinha ouvido falar do bando dos quatro, mas não ousou questionar as amigas sobre isso. Talvez fosse uma nova raça de cães. Uma raça chinesa. Todas as instruções estavam escritas em inglês, traduzindo os carateres chineses, em mandarim para ser mais preciso. Dona Belarmina compreendia muito mal o inglês e tudo aquilo lhe parecia muito estranho. Achava que aquilo da capacidade infinita era mera publicidade; já quanto ao facto de as coleiras terem sido testadas nos opositores do regime maoísta, isso era-lhe completamente incompreensível. Mas bastava-lhe olhar para a alegria do seu Piruças brincando, para se desligar dos problemas de tradução do folheto de instruções da coleira extensível. Afinal, era esta a causa da mais recente boa disposição do seu fiel companheiro. Não era isso o mais importante?
Até que um dia, o mais inesperado acabou por acontecer. Dona Belarmina, como era costume tinha jantado frugalmente. À noite bastava-lhe um prato de sopa, que, por vezes, partilhava com o Piruças. Nesse dia, Piruças recusou o resto da sopa da dona. E quando Dona Belarmina se instalou na salinha, diante da telenovela, o Piruças desatou a correr, primeiro às voltas na sala, depois percorrendo todas as divisões da sala. Dona Belarmina estranhou aquele comportamento e chegou a pensar que o seu cãozinho tinha comido alguma coisa que lhe tivesse feito mal. Só que o Piruças parecia cada vez mais desvairado, na sua corrida desenfreada. Em vão a dona o chamava. Piruças parecia desligado de tudo, apenas preocupado em correr cada vez mais depressa. Era como se não estivesse a correr por vontade própria, mas estivesse a ser puxado de forma violenta. Belarmina estava a ficar assustada e, apesar de estar agarrada à coleira, segurando-a com toda a força que possuía, sentia que o seu cão ía sair de casa disparado, impelido por uma força estranha. Uma força centrífuga, o pior que pode haver, imaginava.
Até que, continuando a coleira a desenrolar-se furiosamente, Dona Belarmina deixou de ver e ouvir o seu Piruças. Sabia já por experiência, que depois de muitos metros a coleira estacava e já não se estendia mais. Contudo, sentia que algo de estranho se estava a passar. De facto, naquela noite, a coleira não parou de esticar. Magicamente, parecia, finalmente, uma coleira infinita. E o cão nunca mais voltava. A noite avançava e o Piruças não regressava. A Dona Belarmina bem o procurou e chamou, mas nada. Até que resolveu suspender as buscas e voltou, mergulhada numa profunda tristeza, para o seu quarto, com a pega da coleira na mão. Ainda olhou para o pratinho onde o Piruças comia e os seus olhos não conseguiram reprimir as primeiras lágrimas dessa noite. Deitou-se e custou-lhe adormecer, a pensar por onde é que o seu cão andaria. Se estaria bem, se teria um sítio para dormir, se teria comido qualquer coisa. Na sua mesinha de cabeceira poisou, ao lado do copo com a placa, a pega da coleira extensível. Tinha a certeza que acordaria se a coleira se mexesse.
         No outro dia, mal acordou, caminhou para a cozinha, na esperança de que o seu cão tivesse voltado. Tinha-lhe deixado a porta aberta do quarto, com essa intenção. Chamou o Piruças, mas nada. Mas ficou surpresa quando viu que o comedouro estava vazio. O Piruças tinha lá estado durante a noite!
         Nos dias que se seguiram, custou-lhe muito sair à rua e enfrentar as perguntas das amigas que queriam saber do Piruças. Não era capaz de lhes contar a verdade, pelo que lhes foi dizendo que o pobrezinho estava doente, com uma arreliadora inflamação gástrica, doença que conhecia em pormenor por ter estado na origem do problema de saúde, mais grave, que lhe levou o marido. Efigénia pareceu desconfiar da explicação, mas Belarmina já não reparav nos olhares frios e acusadores da outra. A ausência do Piruças era mais que suficiente para lhe ocupar a alma, afogar-lhe qualquer outro sentimento.
         Durante várias noites, o comedouro foi sendo enchido e no outro dia estava vazio. Mas era em vão, que a Dona Belarmina tentava surpreender o cão, ou porque nunca chegava a vê-lo, ou porque adormecia antes da sua aparição, ou porque acontecia ele aparecer quando ela tinha que ir à casa de banho. Na noite que conseguiu, finalmente, ficar desperta completamente, muito à força de um café duplo que lhe deixou o coração a palpitar que esteve prestes a chamar por socorro, o Piruças não apareceu. E assim também aconteceu na noite seguinte, até que a Dona Belarmina desistiu de ficar acordada, emboscada numa cadeira ao lado do frigorífico, não fosse o Piruças deixar de se alimentar, devido à sua presença escondida.
         Essa mudança de estratégia não veio alterar nada. O Piruças parecia que já não conhecia o caminho de casa, o que não deixava de ser estranho, pois bastava seguir a coleira. A pega desta continuava poisada junto ao comedouro, como se fossem peças do passado, dum passado agora dolorosamente feliz.
Por fim, um dia, a Dona Belarmina, morta de saudades do seu Piruças, resolveu puxar com mais determinação, a coleira extensível. Estava disposta a não parar enquanto não aparecesse o seu Piruças. Esteve assim durante horas, como se fosse um pescador a puxar a rede. Esperava ser compensada por abundante pescaria. Por essa razão, quando pensava que ía aparecer o seu Piruças, um pouco mais magro porque entretanto deixara de aparecer e comer todos os petiscos que a Dona Belarmina lhe arranjava, saltou-lhe na cozinha um canzarrão enorme que ladrou furioso e vendo que quase nada estava no comedouro, abriu a boca e, sem mastigar, engoliu a Dona Belarmina que, como que num mergulho perfeito de cabeça, desapareceu completamente no amplo buraco negro que era agora a bocarra do seu renovado Piruças.




Epílogo para quem pretenda discutir a duvidosa moralidade desta história
Todos lamentam, certamente, o triste desfecho da nossa história, o fim tão horrível como inesperado da Dona Belarmina. Só que a Dona Belarmina acabou por ser vítima de si mesma. Em primeiro lugar, vítima da inveja e duma necessidade perfeitamente repreensível de querer ter mais que as suas amigas. Dona Belarmina ficou roída de inveja quando viu que uma das suas amigas do jardim possuía uma coleira extensível. É verdade que em matéria de inveja até os deuses tinham dificuldade em lhe resistir. Assim sendo, conseguiria não sucumbir uma pobre e solitária mortal? De qualquer modo, as coisas ficaram piores ao pretender a coleira mais extensível que existisse no mercado. Ora, uma coleira extensível, quase infinita, a roçar os vastos campos do deslumbramento, acabaria por criar no seu utilizador uma aparência de liberdade a que dificilmente se iria resistir. Quem pisasse os sedutores caminhos da liberdade, quem deambulasse pelas avenidas da liberdade, nunca mais seria o mesmo! Era pouco provável que, passada essa experiência, quisesse voltar a sentir essa aparência de vida, essa ilusão anestesiante, essa existência amputada. Finalmente, e como na altura certa sublinhámos, não era um pormenor desprezível o facto de a coleira extensível ter sido fabricada na República Popular da China. Ora, essas coleiras extensíveis faziam parte duma manifestação planeada de propaganda do regime. Estas coleiras extensíveis, quase infinitas, eram aplicadas aos opositores do regime que se encontravam detidos. Concretamente, o regime aplicava estas coleiras extensíveis em substituição do encarceramento formal. Os presos políticos podiam optar por estas coleiras e fazer uma vida quase normal, pois não tinham que ficar no interior da cela duma prisão. Voltavam para as suas casas, para o convívio com as suas famílias, regressavam aos seus locais de trabalho. Alguns, puderam voltar para a Universidade onde davam aulas, antes de serem detidos e julgados ou para o jornal onde escreviam. Claro que sempre usando a coleira extensível do regime. Mas como as coleiras eram quase infinitamente extensíveis, alguns presos chegaram a ir ao estrangeiro e aí participar em manifestações contra o regime chinês, dar conferências e entrevistas. Só não podiam retirar as coleiras. Com efeito, tal era impossível devido a um sistema de fecho eletrónico associado a um chip que emitia um sinal identificando a situação e comunicando-o para o posto de polícia mais próximo.
Porém, as coleiras permitiam criar essa aparência de liberdade verdadeiramente aliciante para os opositores do regime chinês, tal como serviam as intenções de propaganda do regime perante os governos ocidentais, simulando uma espécie de abertura democrática que era apenas a medida da coleira.
É impressionante o que podia fazer uma coleira extensível quase infinita. Por isso, vários estudiosos das áreas da politologia, da sociologia e da filosofia política dedicaram-se ao estudo dos efeitos destas coleiras nas atitudes e comportamentos dos presos políticos. E, das muitas conclusões, as mais significativas apontaram para o surgimento no utilizador destas coleiras extensíveis, dum poderoso desejo de liberdade que se transformava numa vontade de libertação e de eliminação do opressor. Estas conclusões não acompanhavam as embalagens das coleiras extensíveis quase infinitas recebidas no estabelecimento «Aires – acessórios para animais de companhia e outros». Nem o senhor Aires, o dono, suspeitava desta qualidade fascinante a acompanhar um inocente acessório para cãezinhos. Quem pega numa coleira apenas pensa em prender o animal. Nunca suspeita que a coleira também o pode libertar. Lamentavelmente para os mais incautos. É que a verdadeira liberdade foi a que se libertou também de si mesma.


José Carlos S. de Almeida (2016)

             

terça-feira, 13 de junho de 2017

Apalavrado, ficar apalavrado

Quando um negócio ficava apalavrado isso significava que os intervenientes no negócio, no contrato, já tinham abordado (pela palavra) os seus termos essenciais e, portanto, o negócio já estava delineado no fundamental e já se poderia fechar, isto é, concluir.
Depois de apalavrado ele poderia ficar reduzido a escrito. Mas reparemos, desde já, que esta transposição do registo do apalavrado (oralidade) para o registo escrito irá conduzir sempre a um excesso que o contrato (escrito) deve, num momento de conformação segundo os modelos em uso, delapidar, reduzir, limar.
A escrita vai, assim, excluir o supérfluo do farelório, joeirar o discurso.
Mas tempo houve em que não era preciso reduzir a escrito o negócio. Nessa altura, bastava a palavra dum homem para ele se sentir obrigado e os outros acreditarem nessa obrigação. A sua palavra servia de penhor, era a marca da sua honra. Palavra de honra…
O negócio apalavrado não ficava com esse aspeto de provisoriedade que não daria segurança aos intervenientes. Não, estava apalavrado e isso era suficiente. Aliás, nessa altura, poucos sabiam ler e escrever. Registar por escrito os termos do negócio era meio caminho para armadilhar os analfabetos, isto é, quase sempre os mais humildes e pobres. Com este condicionalismo, mais valia apalavrar, manter o negócio apalavrado. Era suficiente para homens de palavra.
Lembro-me de ir com a minha mãe, tinha uns 6 anos, à feira do gado, às segundas-feiras, ajudar o meu avô na venda dalgum animal, quase sempre uma vaquita. Gostava dos ambientes das feiras, do cheiro a gado, das barracas de pano onde se bebia e comia e onde cheguei a ir almoçar numas mesas compridas e que se partilhava com quem quer que fosse, quase sempre um desconhecido com quem acabávamos, inevitavelmente, por conversar. Ora, nessas barracas da feira, os homens que negociavam o gado, costumavam fechar o negócio, era assim que o meu avô fazia, indo aí beber um copo de vinho. O negócio fechava-se com palavras que acabavam por molhar, pois já tinham as gargantas secas por causa do pó que soltava do terreiro da feira e de tanto apalavrar.