terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Sítios de pesquisa para a elaboração de trabalhos escolares e académicos

Para pesquisar e encontrar muito do material que é preciso para os trabalhos escolares, esqueçam o Google e procurem nestes sites. 
A lista dos melhores sítios de pesquisa académico aparecem aqui listados.



domingo, 25 de fevereiro de 2018

Um lavagante esfomeado mas politizado

Um senhor lavagante
muito elegante
passeava com a sua amante
de exaltante aroma
em plena avenida de Roma.

Sentindo alguma fomeca
entrou num restauranteperguntando
Então, não há nada que se coma?
Respondeu-lhe o empregado
um tal de tal João Alberto
Ora, caro senhor lavagante
apareceu no sítio certo!
Pois é aqui que se manja
E a vontade fica satisfeita
Pode começar por uma canja
Com muita carniça desfeita.
Para si e p'rá sua amiga
que parece desfalecer
se qualquer coisa p'rá barriga
não lhe arranjarmos p'ra comer!
Só que o nosso lavagante
Não era bem o prato do dia
A coisa que ele mais queria
mas antes algo de mais extravagante
Para rimar com lavagante.
E pondo-se com modos de artista
Pede então a lista
E ao empregado Alberto
Que não tinha cara de esperto
Mas antes a raiar para o assim-assim
Disse-lhe, todo importante
«Olhe, escolha por mim…»
Respondeu-lhe o tal Alberto
cheio de boas maneiras
isto é, come il faut,
seguindo a etiqueta:
Temos aqui um pitéu, une chose fine
um extraordinário petisco
uma receita da mais que nouvelle cuisine!
Só que inclui… marisco!
Foi então que o lavagante,
olhando para a sua companheira
virou-se
irado
para o empregado,
«Oh, meu desgraçado
saia já da minha beira!
Então oferece-nos marisco
à conta de grande petisco
a nós que viemos do mar?
Não vê que isso é suicídio
Mais talvez mais parecídio
com premeditado
homicídio?...»
E os outros clientes
despertando dum sono dogmático
deram em concordar com o lavagante
e passaram a comer vegetais
dali em diante!

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Direitos dos animais (1)



As ideias do eminente filósofo Peter Singer sobre a perspetiva da ética sobre direitos dos animais pode (e deve) ser vista aqui.


segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Tony Wagner: reinventar a educação para enfrentar o futuro


Que aprender? Que alunos queremos formar? Que professores e que escola temos que desenvolver, quando o conhecimento está acessível a todos?
Tony Wagner, diretor do Laboratório de Inovação da Universidade de Harvard apresenta-nos ideias para um novo modelo. E, o que é mais interessante, é que a Filosofia tem aí um papel essencial. Ou pode ter.




terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Racismos e intoleráveis posições

O livro Racismos - das Cruzadas ao Século XX de Francisco Bethencourt[1] é espantoso a vários níveis: pela erudição e profundidade do autor, pelo rigor e abrangência das referências e temas que mobiliza para um debate que só pode ser mais bem fundado a partir daqui. Mas é também um livro essencial pela qualidade dessa informação que traz para uma temática que, infelizmente, regressa sob novas roupagens para a atualidade política. Aí percebemos que mitos e preconceitos, intolerância tóxica e memórias mal trabalhadas, continuam a alimentar posições que se vão manifestando no espaço público. É, por isso, um livro essencial.
Se é verdade que o nosso passado deve ser melhor estudado e pensado, já agora, doa a quem doer, na escala das atrocidades intelectuais talvez o nosso eterno atraso científico nos tenha evitado contribuir para essa mistificação pseudo-científica em torno das raças, onde pulularam ingleses e norte-americanos, mostrando como o debate científico serviu e serve as intenções e projetos políticos mais inconfessados.
Entre o abundante material referido e tratado neste livro, chamou-me a atenção as quatro páginas dedicadas a Louis Agassiz (1807-1873). Este suiço de nascimento foi um eminente zoólogo, geólogo e historiador natural que estudou em Zurique, Heidelberga e Munique, trabalhou na Universidade de Neuchâtel e, em 1846, mudou-se para os Estados Unidos onde se tornou professor de zoologia e geologia em Harvard[2].
Ora, entre abril de 1865 e agosto de 1866, Agassiz participou numa expedição ao Brasil e que contou com jovens estudiosos como, por exemplo, William James, o futuro psicólogo e filósofo e cuja obra ficará internacionalmente conhecida.
Francisco Bethencourt
Durante a expedição, Agassiz foi registando várias observações. Algumas não deixarão de, eventualmente, melindrar o nosso sentimento mais nacionalista. Assim, Francisco Bethencourt dá-nos conta de que Agassiz defendia que «em inteligência, os negros livres estão à altura dos brasileiros e dos portugueses», que transmitiam «o espectáculo único de uma raça superior a ser influenciada por outra mais baixa, de uma classe educada a adotar os hábitos e a descer ao nível dos selvagens»[3]. Isso mesmo, os portugueses teriam descido na escala das raças (no pressuposto meramente ideológico de que existe essa escala) e, vítimas da mestiçagem, fomentado esse contacto reprovável entre raças, teriam contribuído para o desaparecimento duma pureza que se dissolveria com as boas qualidades físicas e morais que a acompanhavam. Para Agassiz, citado por Bethencourt, os mestiços eram tão repugnantes como cães rafeiros!
Porém, o que pretendia Agassiz?
Nada mais que avisar que «o Brasil era um bom exemplo do tipo de sociedade de raça mista que os Estados Unidos deveriam evitar»[4]. Por outro lado, o autor enquadra a posição de Agassiz no contexto político dos Estados Unidos da altura: a derrota da Confederação e a vitória do abolicionismo[5]. Mas nem tudo estava perdido para os defensores do esclavagismo e da supremacia dos brancos: até à década de 1960 manter-se-ia "um desenvolvimento ativamente político da teoria das raças a favor das políticas sulistas de exclusão, segregação e discriminação [...] sob o olhar impávido dos pragmáticos brancos nortistas que partilhavam os mesmos preconceitos raciais básicos"[6]. É que o problema não tinha apenas a ver com uma discutível teoria das raças, mas com o modo de produção capitalista. E este estava (e está) para durar.

Francisco Bethencourt, Racismos - das Cruzadas ao Século XX, Lisboa, Temas e Debates - Círculo de Leitores, 2015, 582 pp.



[1] Francisco Bethencourt, Racismos - das Cruzadas ao Século XX, Lisboa, Temas e Debates - Círculo de Leitores, 2015, 582 pp.
[2] Sobre a obra de Agassiz, cf. http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/2703/n/o_racismo_de_louis_agassiz.
[3] Op. cit. p. 387.
[4] Ibid.
[5] Op. cit., p. 388.
[6] Ibid.

sábado, 10 de fevereiro de 2018

O mínimo tempo do olhar

A pouco e pouco esquecemo-nos dos pormenores dum rosto, das suas particularidades mais notáveis, dos sinais, mesmo os mais invulgares. O rosto torna-se um mapa confuso até se transformar num apressado caldo de sensações. É por isso que o apaixonado, na incandescência do seu amor mais recente, tem dificuldade em se lembrar do seu rosto, quando à noite se esforça por recordá-lo, para que ele entre no seu sonho a seguir. Que irritante se torna termos ali o rosto do outro quase à mão de semear, como um nome à ponta de língua e não nos conseguimos lembrar. O rosto do outro ganha quase a dimensão do fantasma, de algo nebuloso, mas etéreo. Mas não esquecemos a profundidade de um olhar, o modo como o olhar nos olha, a maneira como nos sentimos olhados e nos acabamos por ver através do olhar do outro. Jorge recorda o olhar intenso de Luísa, um dia à noite na marginal, cada um dentro do seu carro, parados nos semáforos, os dois carros à distância mínima, como bólides à espera da bandeira da partida, acelerando nervosos, motores inquietos. Nesse momento sentiram ao vivo como o olhar hipnotiza os amantes, os torna incapazes de qualquer gesto, os imobiliza no auge do fascínio. À maneira da serpente. Não estavam imóveis: estavam docemente paralisados pelo olhar do outro, suspensos no tempo. Nenhum deles tinha vontade de quebrar esse encanto. Estátuas para a eternidade. Também é verdade que, naquele momento, cumpriam uma parte do seu destino: o de, no momento em que se encontram, apartarem-se por completo dos outros e das coisas e apenas celebrarem o seu espaço, o ambiente que, laboriosamente, com muito cuidado, vão construindo. Como estátuas, olhando-se, apenas escutavam o bater feliz do coração. Apenas existiam um para o outro. Aquela mulher era o seu melhor cenário, de sempre. Tomara ele tornar-se num jardim para a receber.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

O multiculturalismo segundo o neoconservadorismo norte-americano

Irving Kristol (1920-2009). Este americano, apesar de conhecido jornalista, enquanto um dos editores do Wall Street Journal, acabou por ficar conhecido como um dos fundadores do neoconservadorismo. Ficou conhecida a seu descrição de um neoconservador: um liberal que foi assaltado pela realidade. Descrevia, assim, uma eventual evolução de alguns intelectuais liberais e de esquerda que teriam guinado à direita, depois de constatarem a improbabilidade das suas ideias, a deceção das experiências liberais e a dura e triste realidade, negando todas as ilusões pueris. Aliás, o próprio percurso de Kristol ilustra esse mesmo processo: do radicalismo socialista e do trotskismo da juventude, "evoluiu" até ao mais radical anticomunismo. Um percurso que também encontramos entre nós, de forma abundante e bem esclarecedora. Entre nós, publicou-se a sua obra de referência: Neoconservadorismo - autobiografia de uma ideia[1], e que reúne vários artigos.
Ora, por ter tido necessidade de preparar umas aulas sobre o multiculturalismo, acabei por regressar  a este livro de Irving Kristol, detendo-me, precisamente, num dos seus artigos de 1991 intitulado «A tragédia do multiculturalismo»[2].
Neste curto artigo, Kristol reflete sobre o multiculturalismo no âmbito da educação. É assim que o define como o esforço excessivo levado a cabo por alguns educadores no sentido de alargar o currículo convencional de forma a confessar as minorias étnicas, nomeadamente, os jovens negros, como "estratégia desesperada - e condenada à nascença - para fazer face às [suas] deficiências educacionais [...] e às patologias a eles associadas"[3]. Esta estratégia também contemplaria outros grupos minoritários de origem hispânica e oriental. Embora, considera Kristol o processo de americanização ´o objetivo central dos progenitores, pelo que não manifestariam preocupações de natureza multicultural. Esse processo de integração, constata Kristol, que não tem funcionado tão bem para os negros americanos conduz ao "desespero que fez com que nos voltássemos para o multiculturalismo"[4] e a procura de instrumentos e estratégias que ampliem o currículo. Só que, afirma Kristol, os problemas dos jovens negros eram um produto do lar e do ambiente e não um problema de educação.
No entanto, Kristol denuncia o multiculturalismo enquanto problema nacional e a sua propagação através duma "coligação de nacionalistas-racistas negros, feministas radicais, gays, lésbicas e um punhado de demagogos potenciais que se dizem representantes de várias minorias étnicas"[5]. E conclui que o multiculturalismo desta coligação é "uma ideologia cujo programa educativo é, acima de tudo, anti-americano e anti-ocidental". Ora, é aqui que se revela o quiprocuó do nosso neoconservador em relação ao multiculturalismo: é que esta ideologia radical insere-se na guerra contra o Ocidente e contra a América, infiltrando-se no sistema educativo! O multiculturalismo, segundo Kristol, revelaria uma ofensiva contra os valores da América e do Ocidente, uma ofensiva ideológica debaixo de uma narrativa eivada de preocupações pedagógicas. [a continuar]



[1] Irving Kristol, Neoconservadorismo - autobiografia de uma ideia, Lisboa, Quetzal Editores, 2003, 482 pp.
[2] Op. cit., pp. 66-69.
[3] Op. cit., p. 66.
[4] Op. cit., p. 67.
[5] Op. cit., p. 68.

sábado, 3 de fevereiro de 2018

A tragédia dum rei sem trono

Este interessante livro do historiador Paulo Drumond Braga sobre a vida de D. Duarte Nuno
de Bragança (1907-1976) conta-nos a peculiar vida dum amargurado e deprimido pretendente a um trono que nunca existiu para além do desejo e dos projetos de monárquicos mais sonhadores e para o qual nunca se encontrou fadado. Não nasceu para ser rei, pois era o terceiro na linha de sucessão e apenas surge como pretendente ao trono como resultado de funestos acontecimentos: a morte do irmão Francisco José, filho de D. Miguel (II) e de Isabel de Thurn e Taxis, o primeiro casamento do pai e a renúncia de outro, D. Miguel Maximiliano Sebastião, com a mesma carreira militar,  integrado nas incursões monárquicas de Paiva Couceiro em 1911 e 1912 e durante a Primeira Guerra, que o irmão Francisco José, sem no entanto ter sido feito prisioneiro como o irmão, que morreu prisioneiro das tropas italianas.  Ocorrências a que se deve somar a morte do pai quando tinha 13 anos e a morte sem filhos de D. Manuel II, em 1932.
Surgir como pretendente ao trono num contexto nacional e internacional tão complexo, tendo Salazar e o Estado Novo como oponentes diretos apesar das suas óbvias simpatias pela situação, tentando gerir, quando não era vítima, as contradições internas do movimento monárquico, fez deste D. Duarte Nuno, pai de D. Duarte Pio que todos conhecemos e neto de D, Miguel que reinou entre 1826 e 1834
O acertado título, Nas Teias de Salazar, revela bem a interessante história que se desenrola ao lado do relato sobre a vida de D. Duarte Nuno. É que Salazar ía acalmando as hostes monárquicas com grande habilidade, revelando alguma condescendência em relação aos vários pedidos que lhe íam fazendo, o que não deixava de produzir embaraços por entre aqueles que se opunham ao Estado Novo.
Contudo, o que ressalta da nossa leitura do livro e nos inspira para outras reflexões, é observarmos a amargura e a saudade dos exilados monárquicos (entre os mais ilustres, por exemplo, D. Amélia e D. Manuel II), o modo como exprimem o amor à terra, a nostalgia da paisagem, justificando incursões rápidas e semi-clandestinas, viagens pelo país em modo clandestino e protagonizadas por alguns que não resistiam às saudades.
Interessante biografia, cuja leitura me surpreendeu por ser tão fluída e cativante, está estruturada diacronicamente sem ficar submetida e limitada por um propósito historicista. Ao mesmo tempo, como que se apresenta como uma sugestiva e inspiradora proposta de ficção, o que não deixará de agradar aos amantes do romance histórico.
No fim fica-nos a amargura que perpassa as suas páginas e quando entramos nos aspetos mais privados e íntimos da vida do biografado e a que não será estranha a sugestão subtil de estarmos diante de uma personalidade obsessiva-compulsiva. O que leva o autor a afirmar que D. Duarte Nuno de Bragança "cultivou um perfil talvez demasiado cinzento e opaco, que em nada contribuiu para divulgar uma imagem positiva junto dos portugueses" (p. 312). De qualquer modo, sempre se situará D. Duarte Nuno sob o signo fatal dum desajustamento essencial que o levará da esperança à desilusão e, depois, à triste solidão dos últimos anos: a de um inesperado candidato a rei sem trono, patriota mas longe da pátria durante uma parte significativa da sua vida e que, finalmente em Portugal, não irá encontrar o acolhimento e a paz que imaginaria ou lhe tinham prometido.


Paulo Drumond Braga, Nas Teias de Salazar - D. Duarte Nuno de Bragança (1907-1976) - entre a esperança e a desilusão, Lisboa, Ed. Objectiva, 2017, 358 pp.