Para pesquisar e encontrar muito do material que é preciso para os trabalhos escolares, esqueçam o Google e procurem nestes sites.
A lista dos melhores sítios de pesquisa académico aparecem aqui listados.
Aqui se acoitam mentes brilhantes, almas torturadas e um pobre professor de Filosofia
terça-feira, 27 de fevereiro de 2018
domingo, 25 de fevereiro de 2018
Um lavagante esfomeado mas politizado
Um senhor lavagante
muito elegante
passeava com a sua amante
de exaltante aroma
em plena avenida de Roma.
muito elegante
passeava com a sua amante
de exaltante aroma
em plena avenida de Roma.
Sentindo alguma fomeca
entrou num restauranteperguntando
Então, não há nada que se coma?
entrou num restauranteperguntando
Então, não há nada que se coma?
Respondeu-lhe o empregado
um tal de tal João Alberto
Ora, caro senhor lavagante
apareceu no sítio certo!
Pois é aqui que se manja
E a vontade fica satisfeita
Pode começar por uma canja
Com muita carniça desfeita.
Para si e p'rá sua amiga
que parece desfalecer
se qualquer coisa p'rá barriga
não lhe arranjarmos p'ra comer!
um tal de tal João Alberto
Ora, caro senhor lavagante
apareceu no sítio certo!
Pois é aqui que se manja
E a vontade fica satisfeita
Pode começar por uma canja
Com muita carniça desfeita.
Para si e p'rá sua amiga
que parece desfalecer
se qualquer coisa p'rá barriga
não lhe arranjarmos p'ra comer!
Só que o nosso lavagante
Não era bem o prato do dia
A coisa que ele mais queria
mas antes algo de mais extravagante
Para rimar com lavagante.
E pondo-se com modos de artista
Pede então a lista
E ao empregado Alberto
Que não tinha cara de esperto
Mas antes a raiar para o assim-assim
Disse-lhe, todo importante
«Olhe, escolha por mim…»
Não era bem o prato do dia
A coisa que ele mais queria
mas antes algo de mais extravagante
Para rimar com lavagante.
E pondo-se com modos de artista
Pede então a lista
E ao empregado Alberto
Que não tinha cara de esperto
Mas antes a raiar para o assim-assim
Disse-lhe, todo importante
«Olhe, escolha por mim…»
Respondeu-lhe o tal Alberto
cheio de boas maneiras
isto é, come il faut,
seguindo a etiqueta:
cheio de boas maneiras
isto é, come il faut,
seguindo a etiqueta:
Temos aqui um pitéu, une chose fine
um extraordinário petisco
uma receita da mais que nouvelle cuisine!
Só que inclui… marisco!
um extraordinário petisco
uma receita da mais que nouvelle cuisine!
Só que inclui… marisco!
Foi então que o lavagante,
olhando para a sua companheira
virou-se
irado
para o empregado,
«Oh, meu desgraçado
saia já da minha beira!
Então oferece-nos marisco
à conta de grande petisco
a nós que viemos do mar?
Não vê que isso é suicídio
Mais talvez mais parecídio
com premeditado
homicídio?...»
olhando para a sua companheira
virou-se
irado
para o empregado,
«Oh, meu desgraçado
saia já da minha beira!
Então oferece-nos marisco
à conta de grande petisco
a nós que viemos do mar?
Não vê que isso é suicídio
Mais talvez mais parecídio
com premeditado
homicídio?...»
E os outros clientes
despertando dum sono dogmático
deram em concordar com o lavagante
e passaram a comer vegetais
dali em diante!
despertando dum sono dogmático
deram em concordar com o lavagante
e passaram a comer vegetais
dali em diante!
sábado, 24 de fevereiro de 2018
Direitos dos animais (1)
As ideias do eminente filósofo Peter Singer sobre a perspetiva da ética sobre direitos dos animais pode (e deve) ser vista aqui.
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018
Tony Wagner: reinventar a educação para enfrentar o futuro
Que aprender? Que alunos queremos formar? Que professores e que escola temos que desenvolver, quando o conhecimento está acessível a todos?
Tony Wagner, diretor do Laboratório de Inovação da Universidade de Harvard apresenta-nos ideias para um novo modelo. E, o que é mais interessante, é que a Filosofia tem aí um papel essencial. Ou pode ter.
terça-feira, 13 de fevereiro de 2018
Racismos e intoleráveis posições
O
livro Racismos - das Cruzadas ao Século
XX de Francisco Bethencourt[1] é
espantoso a vários níveis: pela erudição e profundidade do autor, pelo rigor e
abrangência das referências e temas que mobiliza para um debate que só pode ser
mais bem fundado a partir daqui. Mas é também um livro essencial pela qualidade
dessa informação que traz para uma temática que, infelizmente, regressa sob
novas roupagens para a atualidade política. Aí percebemos que mitos e
preconceitos, intolerância tóxica e memórias mal trabalhadas, continuam a
alimentar posições que se vão manifestando no espaço público. É, por isso, um
livro essencial.
Se
é verdade que o nosso passado deve ser melhor estudado e pensado, já agora, doa
a quem doer, na escala das atrocidades intelectuais talvez o nosso eterno
atraso científico nos tenha evitado contribuir para essa mistificação
pseudo-científica em torno das raças, onde pulularam ingleses e
norte-americanos, mostrando como o debate científico serviu e serve as
intenções e projetos políticos mais inconfessados.
Entre
o abundante material referido e tratado neste livro, chamou-me a atenção as
quatro páginas dedicadas a Louis Agassiz (1807-1873). Este suiço de nascimento
foi um eminente zoólogo, geólogo e historiador natural que estudou em Zurique,
Heidelberga e Munique, trabalhou na Universidade de Neuchâtel e, em 1846,
mudou-se para os Estados Unidos onde se tornou professor de zoologia e geologia
em Harvard[2].
Ora,
entre abril de 1865 e agosto de 1866, Agassiz participou numa expedição ao
Brasil e que contou com jovens estudiosos como, por exemplo, William James, o
futuro psicólogo e filósofo e cuja obra ficará internacionalmente conhecida.
Francisco Bethencourt |
Durante
a expedição, Agassiz foi registando várias observações. Algumas não deixarão de,
eventualmente, melindrar o nosso sentimento mais nacionalista. Assim, Francisco
Bethencourt dá-nos conta de que Agassiz defendia que «em inteligência, os
negros livres estão à altura dos brasileiros e dos portugueses», que transmitiam
«o espectáculo único de uma raça superior a ser influenciada por outra mais
baixa, de uma classe educada a adotar os hábitos e a descer ao nível dos
selvagens»[3]. Isso
mesmo, os portugueses teriam descido na escala das raças (no pressuposto meramente
ideológico de que existe essa escala) e, vítimas da mestiçagem, fomentado esse
contacto reprovável entre raças, teriam contribuído para o desaparecimento duma
pureza que se dissolveria com as boas qualidades físicas e morais que a
acompanhavam. Para Agassiz, citado por Bethencourt, os mestiços eram tão
repugnantes como cães rafeiros!
Porém,
o que pretendia Agassiz?
Nada
mais que avisar que «o Brasil era um bom exemplo do tipo de sociedade de raça
mista que os Estados Unidos deveriam evitar»[4]. Por
outro lado, o autor enquadra a posição de Agassiz no contexto político dos
Estados Unidos da altura: a derrota da Confederação e a vitória do
abolicionismo[5].
Mas nem tudo estava perdido para os defensores do esclavagismo e da supremacia
dos brancos: até à década de 1960 manter-se-ia "um desenvolvimento
ativamente político da teoria das raças a favor das políticas sulistas de
exclusão, segregação e discriminação [...] sob o olhar impávido dos pragmáticos
brancos nortistas que partilhavam os mesmos preconceitos raciais básicos"[6]. É que o
problema não tinha apenas a ver com uma discutível teoria das raças, mas com o
modo de produção capitalista. E este estava (e está) para durar.
Francisco Bethencourt, Racismos - das Cruzadas ao Século XX,
Lisboa, Temas e Debates - Círculo de Leitores, 2015, 582 pp.
sábado, 10 de fevereiro de 2018
O mínimo tempo do olhar
A
pouco e pouco esquecemo-nos dos pormenores dum rosto, das suas particularidades
mais notáveis, dos sinais, mesmo os mais invulgares. O rosto torna-se um mapa
confuso até se transformar num apressado caldo de sensações. É por isso que o
apaixonado, na incandescência do seu amor mais recente, tem dificuldade em se
lembrar do seu rosto, quando à noite se esforça por recordá-lo, para que ele
entre no seu sonho a seguir. Que irritante se torna termos ali o rosto do outro
quase à mão de semear, como um nome à ponta de língua e não nos conseguimos
lembrar. O rosto do outro ganha quase a dimensão do fantasma, de algo nebuloso,
mas etéreo. Mas não esquecemos a profundidade de um olhar, o modo como o olhar
nos olha, a maneira como nos sentimos olhados e nos acabamos por ver através do
olhar do outro. Jorge recorda o olhar intenso de Luísa, um dia à noite na
marginal, cada um dentro do seu carro, parados nos semáforos, os dois carros à
distância mínima, como bólides à espera da bandeira da partida, acelerando nervosos,
motores inquietos. Nesse momento sentiram ao vivo como o olhar hipnotiza os
amantes, os torna incapazes de qualquer gesto, os imobiliza no auge do
fascínio. À maneira da serpente. Não estavam imóveis: estavam docemente
paralisados pelo olhar do outro, suspensos no tempo. Nenhum deles tinha vontade
de quebrar esse encanto. Estátuas para a eternidade. Também é verdade que,
naquele momento, cumpriam uma parte do seu destino: o de, no momento em que se
encontram, apartarem-se por completo dos outros e das coisas e apenas
celebrarem o seu espaço, o ambiente que, laboriosamente, com muito cuidado, vão
construindo. Como estátuas, olhando-se, apenas escutavam o bater feliz do
coração. Apenas existiam um para o outro. Aquela mulher era o seu melhor
cenário, de sempre. Tomara ele tornar-se num jardim para a receber.
quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018
O multiculturalismo segundo o neoconservadorismo norte-americano
Irving Kristol (1920-2009). Este americano, apesar de conhecido
jornalista, enquanto um dos editores do Wall
Street Journal, acabou por ficar conhecido como um dos fundadores do
neoconservadorismo. Ficou conhecida a seu descrição de um neoconservador: um
liberal que foi assaltado pela realidade. Descrevia, assim, uma eventual
evolução de alguns intelectuais liberais e de esquerda que teriam guinado à
direita, depois de constatarem a improbabilidade das suas ideias, a deceção das
experiências liberais e a dura e triste realidade, negando todas as ilusões
pueris. Aliás, o próprio percurso de Kristol ilustra esse mesmo processo: do
radicalismo socialista e do trotskismo da juventude, "evoluiu" até ao
mais radical anticomunismo. Um percurso que também encontramos entre nós, de
forma abundante e bem esclarecedora. Entre nós, publicou-se a sua obra de
referência: Neoconservadorismo -
autobiografia de uma ideia[1],
e que reúne vários artigos.
Ora, por ter tido necessidade de preparar umas aulas sobre o
multiculturalismo, acabei por regressar
a este livro de Irving Kristol, detendo-me, precisamente, num dos seus
artigos de 1991 intitulado «A tragédia do multiculturalismo»[2].
Neste curto artigo, Kristol reflete sobre o multiculturalismo no âmbito
da educação. É assim que o define como o esforço excessivo levado a cabo por
alguns educadores no sentido de alargar o currículo convencional de forma a
confessar as minorias étnicas, nomeadamente, os jovens negros, como
"estratégia desesperada - e condenada à nascença - para fazer face às
[suas] deficiências educacionais [...] e às patologias a eles associadas"[3].
Esta estratégia também contemplaria outros grupos minoritários de origem
hispânica e oriental. Embora, considera Kristol o processo de americanização ´o
objetivo central dos progenitores, pelo que não manifestariam preocupações de
natureza multicultural. Esse processo de integração, constata Kristol, que não
tem funcionado tão bem para os negros americanos conduz ao "desespero que
fez com que nos voltássemos para o multiculturalismo"[4]
e a procura de instrumentos e estratégias que ampliem o currículo. Só que,
afirma Kristol, os problemas dos jovens negros eram um produto do lar e do
ambiente e não um problema de educação.
No entanto, Kristol denuncia o multiculturalismo enquanto problema
nacional e a sua propagação através duma "coligação de
nacionalistas-racistas negros, feministas radicais, gays, lésbicas e um punhado
de demagogos potenciais que se dizem representantes de várias minorias
étnicas"[5]. E
conclui que o multiculturalismo desta coligação é "uma ideologia cujo
programa educativo é, acima de tudo, anti-americano e anti-ocidental".
Ora, é aqui que se revela o quiprocuó
do nosso neoconservador em relação ao multiculturalismo: é que esta ideologia
radical insere-se na guerra contra o Ocidente e contra a América,
infiltrando-se no sistema educativo! O multiculturalismo, segundo Kristol,
revelaria uma ofensiva contra os valores da América e do Ocidente, uma ofensiva
ideológica debaixo de uma narrativa eivada de preocupações pedagógicas. [a continuar]
sábado, 3 de fevereiro de 2018
A tragédia dum rei sem trono
Este interessante livro do historiador Paulo Drumond Braga
sobre a vida de D. Duarte Nuno
de Bragança (1907-1976) conta-nos a peculiar
vida dum amargurado e deprimido pretendente a um trono que nunca existiu para
além do desejo e dos projetos de monárquicos mais sonhadores e para o qual
nunca se encontrou fadado. Não nasceu para ser rei, pois era o terceiro na
linha de sucessão e apenas surge como pretendente ao trono como resultado de
funestos acontecimentos: a morte do irmão Francisco José, filho de D. Miguel
(II) e de Isabel de Thurn e Taxis, o primeiro casamento do pai e a renúncia de
outro, D. Miguel Maximiliano Sebastião, com a mesma carreira militar, integrado nas incursões monárquicas de Paiva
Couceiro em 1911 e 1912 e durante a Primeira Guerra, que o irmão Francisco
José, sem no entanto ter sido feito prisioneiro como o irmão, que morreu
prisioneiro das tropas italianas. Ocorrências a que se deve somar a morte do pai
quando tinha 13 anos e a morte sem filhos de D. Manuel II, em 1932.
Surgir como pretendente ao trono num contexto nacional e
internacional tão complexo, tendo Salazar e o Estado Novo como oponentes
diretos apesar das suas óbvias simpatias pela situação, tentando gerir, quando
não era vítima, as contradições internas do movimento monárquico, fez deste D.
Duarte Nuno, pai de D. Duarte Pio que todos conhecemos e neto de D, Miguel que
reinou entre 1826 e 1834
O acertado título, Nas
Teias de Salazar, revela bem a interessante história que se desenrola ao
lado do relato sobre a vida de D. Duarte Nuno. É que Salazar ía acalmando as
hostes monárquicas com grande habilidade, revelando alguma condescendência em
relação aos vários pedidos que lhe íam fazendo, o que não deixava de produzir
embaraços por entre aqueles que se opunham ao Estado Novo.
Contudo, o que ressalta da nossa leitura do livro e nos
inspira para outras reflexões, é observarmos a amargura e a saudade dos
exilados monárquicos (entre os mais ilustres, por exemplo, D. Amélia e D.
Manuel II), o modo como exprimem o amor à terra, a nostalgia da paisagem,
justificando incursões rápidas e semi-clandestinas, viagens pelo país em modo
clandestino e protagonizadas por alguns que não resistiam às saudades.
Interessante biografia, cuja leitura me surpreendeu por ser
tão fluída e cativante, está estruturada diacronicamente sem ficar submetida e
limitada por um propósito historicista. Ao mesmo tempo, como que se apresenta
como uma sugestiva e inspiradora proposta de ficção, o que não deixará de
agradar aos amantes do romance histórico.
No fim fica-nos a amargura que perpassa as suas páginas e quando
entramos nos aspetos mais privados e íntimos da vida do biografado e a que não
será estranha a sugestão subtil de estarmos diante de uma personalidade
obsessiva-compulsiva. O que leva o autor a afirmar que D. Duarte Nuno de
Bragança "cultivou um perfil talvez demasiado cinzento e opaco, que em
nada contribuiu para divulgar uma imagem positiva junto dos portugueses"
(p. 312). De qualquer modo, sempre se situará D. Duarte Nuno sob o signo fatal
dum desajustamento essencial que o levará da esperança à desilusão e, depois, à
triste solidão dos últimos anos: a de um inesperado candidato a rei sem trono,
patriota mas longe da pátria durante uma parte significativa da sua vida e que,
finalmente em Portugal, não irá encontrar o acolhimento e a paz que imaginaria
ou lhe tinham prometido.
Paulo Drumond Braga, Nas Teias de Salazar - D. Duarte Nuno de
Bragança (1907-1976) - entre a esperança e a desilusão, Lisboa, Ed.
Objectiva, 2017, 358 pp.
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