domingo, 31 de dezembro de 2017

O que falta ler - planos para 2018, memórias de Churchill e outros tijolos

            Sempre entendi que, dadas as caraterísticas do nosso tempo que determinam um viver a grande
velocidade[1], de tal modo que não conseguimos acompanhar esse novo ritmo, tese defendida em 1970 pelo pensador norte-americano Alvin Tofler (1928-2016) em O Choque do Futuro, já não vivemos o tempo do grande romance realista. Isto é, o tempo livre de que dispomos, bem como a nossa disposição anímica para ler grandes romances, condicionam de tal modo a nossa maneira de ler que dificilmente nos conseguimos enquadrar no horizonte de receção dos romances realistas de finais do século XIX, Com efeito, será com alguma dificuldade que os nossos jovens adolescentes "suportarão", por exemplo, a demorada descrição ao longo de meia centena de páginas na edição de Os Maias da editora Livros do Brasil, do Ramalhete, o severo casarão que a família dos Maias passou a habitar em Lisboa, a partir do outono de 1875. Precisamos do tempo que teria uma ousada quanto pálida jovem mulher oriunda da burguesia urbana, no remanso da sua casa apalaçada, atentamente assistida por uma criada trigueira vinda da província. Precisamos desse tempo que (já) não possuímos. Não temos esse tempo, não somos desse tempo. Talvez nas férias os vá ler, pensava eu diante dos livros mais volumosos e que, carinhosamente, apelidamos de tijolos!
            Um desses tijolos eram as Memórias da Segunda Guerra Mundial de Winston S. Churchill que possuo numa edição brasileira da Editora Nova Fronteira. Edição que condensa as originais Memoirs of the Second World War que foram publicadas em 1948 e que valeram a Churchill, segundo o editor norte-americano, a atribuição do Prémio Nobel da Literatura. Contudo, o tijolo adormecido na minha biblioteca possui umas belas 1200 (mil e duzentas) páginas e condensam os seis volumes que constituíam a edição original!
            Mas sobre a dimensão da obra ainda não foi tudo dito. Nesta versão condensada surge-nos o excerto do prefácio onde confessava que aqueles seis volumes deviam ser considerados como "a continuação da narrativa da Primeira Guerra Mundial" e que assim abrangiam "uma exposição de outra Guerra dos Trinta Anos". A extraordinária dimensão das Memórias de Sir Winston Churchill levar-nos-ia, num primeiro relance, a julgar que Churchill apenas escrevia e assim ocupava todo o seu tempo. Mas não, como poucos saberão. De facto, Churchill foi um grande político, de extraordinária combatividade na oposição ou no governo, onde foi ministro e primeiro-ministro, intervindo ativamente nas duas guerras mundiais que ocorreram na primeira metade do século passado. Só que, além disso, também pintava, a óleo e aguarelas, completando mais de quinhentas telas, o que lhe valeu o direito a uma exposição individual na Diploma Gallery da Royal Academy, em 1959.
            Como explicar tamanha produção? O seu estranhíssimo horário[2] não explica tudo. E se o segredo está nas mil e duzentas páginas do tal tijolo adormecido, não será descoberto nas próximas férias dos próximos anos, pois já tenho previstos e agendados outros tijolos.
            Anotem-se alguns. A biografia de Mao, escrita por Jung Chang e Jon Halliday (Mao, Bertrand Editora, 855 pp.)[3] e a biografia de Hitler, de Ian Kershaw (Hitler, Publicações Dom Quixote, 849 pp.). Do fundamental Tony Judt, o seu Pós-Guerra - história da Europa desde 1945 (Ed. 70, 963 pp.), essencial para se compreender a outra Europa, a leste. Ainda no campo do ensaio, está na lista o importante estudo de Christopher Andrew e Vasili MItrokhine sobre as atividades do KGB na Europa e no Ocidente, O Arquivo Mitrokhine, com prefácio de José Pacheco Pereira (Publicações Dom Quixote, 972 pp.). A lista continua, pois no campo da ficção é ainda mais numerosa. Menciono apenas alguns. De Thomas Mann, A Montanha Mágica (Publicações Dom Quixote, 832 pp.); do escritor norte-americano John Frenzen, que esteve recentemente entre nós, o seu romance Liberdade (Publicações Dom Quixote, 684 pp.) e o romance 2666 do chileno precocemente desaparecido Roberto Bolaño (Quetzal Editora, 1030 pp.).
            E ficamos por aqui. A lista dos tijolos em fila de espera continua e só o seu registo parcial é angustiante. Se, inesperadamente, falecer entretanto, reclamo a reencarnação só para os poder ler. A reforma antecipada não me parece suficiente. De qualquer modo, espero derrubar alguns em 2018.



[1] Cf. Jean-Marc Salmon, Um Mundo a Grande Velocidade - a globalização, manual de instruções, Porto, Ambar, 2002, 220 pp.
[2] Sestas de várias horas, enfiando-se na cama a seguir ao almoço, de pijama vestido, e que lhe permitiam, depois, trabalhar toda a noite!
[3] Não esquecendo da mesma Jung Chang, o seu Cisnes Selvagens, eternamente recomeçado.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Depilição de depilação

Rapa-se a perna, o vil sovaco, a recôndita virilha
E assim fica a dama toda escanhoada
Abandonou a  pilosa armadilha
E onde era selva amazónica virou estrada.

A mulher burguesa quer-se bem rapada

De todo o embaraço ou percalço peludo
Onde há pêlo inóspito que fique nada
Onde há pêlo a despropósito rape-se tudo.

E a pele do pêlo por fim desembaraçada
Que era apesar a sua original condição
Acha-se agora a final mais apropriada
Para a pudorada e moralista visão.

Tímido, caprichoso, anti-sético (não cético)
Eis o sempiterno pensamento burguês:
Que não aceita a mulher como ela é
E quer ver bem retocada a nudez.


José Carlos S. de Almeida (2006-2017)

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Os charutos Monte Cristo ou o que pode a literatura

O que pode signficar um nome? Que histórias se escondem por detrás dum nome? Um nome banal ou inócuo como o dos charutos monte cristo, por exemplo. Atente-se nesta surpreendente história contada por Alberto Manguel em Uma História da Leitura (Lisboa, Ed. Presença, 2010 - 3ª ed., pp. 121 e ss.).
Em meados do século XIX, menos de 15% do operariado cubano não sabia ler. Saturnino Martínez, operário da indústria de charutos e poeta, publicava um jornal para os trabalhadores, La Aurora. Só que enfrentava o problema do analfabetismo. Lembrou-se, então, de criar um leitor público. Foi então junto do diretor do liceu de Guanabacoa propondo que a escola colaborasse na promoção da leitura em voz alta no local de trabalho. O diretor da escola dirigiu-se aos trabalhadores da fábrica de charutos El Figaro e convenceu-os da utilidade da iniciativa. Escolheu-se, então, um trabalhador que seria o leitor, o lector oficial, pago pelo seus restantes trabalhadores para lhes ler enquanto enrolavam os charutos, um trabalho mecânico e cansativo. Em 1866, o jornal La Aurora noticiava a leitura nas oficinas, levando os trabalhadores a familiarizarem-se com os livros, promovendo assim o conhecimento e a amizade. Com efeito, várias fábricas seguiram o exemplo. E foram tão bem sucedidas estas sessões públicas de leitura nos locais de trabalho que acabaram por ser consideradas subversivas.
O material destas leituras era escolhido previamente pelos trabalhadores e ía de panfletos políticos a romances e coletâneas de poesia. Mas tinham os seus favoritos. Entre eles, O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas. Esta escolha tornou-se tão popular entre os operários enroladores de charutos que um grupo de trabalhadores escreveu ao autor, pedindo-lhe autorização para dar o nome do herói do seu romance a um dos seus charutos. Dumas consentiu e nasceram os «charutos Monte Cristo».

sábado, 16 de dezembro de 2017

O tempo de descobrir

Durante a nossa infância e adolescência, muitas das nossas descobertas mais inesquecíveis importantes, aparentemente, aconteceram nas nossas férias escolares. Aparentemente, deveria ser durante as aulas que isso devia ter acontecido. À partida, a escola seria o local e o tempo apropriados para cada um realizar as suas descobertas. Mas não. As nossas mais vitais descobertas ocorreriam, afinal, no período em que não estávamos diante dos professores. Parece um contra-senso, mas talvez não. Por várias razões. Primeiro, porque a escola de que guardamos memória, nomeadamente a escola primária durante a longa noite da nossa ingenuidade e mesmo a escola secundária depois, não eram espaços destinados a grande voos de criatividade, de estímulo à imaginação, de descoberta afinal. As descobertas eram servidas já descobertas e os passos da invenção deviam ser decorados; ninguém criava, criticava, pensava, descobria. Por outro lado, as descobertas mais essenciais, as que diziam respeito ao nosso corpo (à nossa identidade), à nossa capacidade de nos apaixonarmos depois da descoberta do outro, às nossas relações com os amigos e a descoberta da amizade, aconteciam fora da escola. As nossas inquietações mais estimulantes só podiam acontecer fora do espaço limitado da escola e da autoridade e no contacto com quem aparecia pela primeira vez, os amigos da rua, os primos, as meninas que estavam também de férias, fora do espaço vigilante e autoritário da escola, num ambiente de feliz disponibilidade e liberdade. Ora, esse ambiente festivo só podia ser o das férias escolares. Georges Steiner em Errata: revisões de uma vida (Ed. Relógio D'Água), relata-nos a sua descoberta durante umas férias em família no Tirol, tinha então perto de dez anos. Descreve-nos aí como, a partir dum livro sobre brasões de Salzburgo que um tio lhe leva, se entrega à sua descoberta durante uns dias chuvosos. É a partir desse livro que Steiner tem a intuição da singularidade, de que tudo é irremediavelmente diferente, da impossibilidade do mesmo, das "numerosas diversidades que nenhum esforço de classificação ou enumeração poderiam esgotar" (p. 11). A revelação da unicidade enfeitiçante e incomensurável, fascina-o e, ao mesmo tempo, aterroriza-o. Ora, esses sentimentos contraditórios estão sempre presentes numa descoberta serôdia. O que Steiner descreve magistralmente resume a essência da descoberta e a turbulência que acontece na alma do descobridor. Porém, esse vendaval estimulante só podia acontecer fora da escola e das aulas, do reino da repetição e da autoridade cinzenta do mesmo. Só fora desse espaço e desse tempo controlados e controladores seria possível optar por aquilo que Derrida designava como a intensidade de vida possível a cada momento. No momento em que suspendo as atividades letivas e entro numa espécie de curtas férias, recordo as minhas longas férias estivais ou aquelas que aconteciam de forma breve durante o Natal. Não tive nenhuma epifania como Steiner. Os meninos pobres aprendiam tudo na escola e descobriam na rua, no caminho a pé, para casa.



George Steiner, Errata: revisões de uma vida, Lisboa, Relógio D'Água, 224 pp.

domingo, 26 de novembro de 2017

A freira farinheira - a minha modesta "homenage" ao Bocage

Não é por similitude sonora
Que a nossa irmã freira
Resguardada no seu hábito
Se confunde com a farinheira

É que esta nossa pobre irmã
À cozinha devotada com amor
Entende que entre os tachos
Se glorifica também o Senhor.

Só que o mundo dos enchidos
Foi pelo Demo inventado
E ninguém a convence a deitar
Um chouriço no cozinhado.

Porque é fálica a sua forma
Suscita libidinosas insinuações
Que se a freira agarrasse no petisco
Teria escandalosas recordações.

Mas está disposta a recuar
Na rigorosa arte culineira
E em vez do erecto chouriço
Usa ‘ma engelhada farinheira.

Junta-se a santa congregação
Chegam convivas especiais
Havendo cozido à portuguesa
Nunca vêm bocas a mais.

Veio o bispo anafado
E uns auxiliares amorosos
Mais os padres habituais
Que só pecam por serem gulosos.

Quando vieram as travessas
Calaram-se os padres tementes
Porque a esta malta religiosa
Deus deu-lhes as nozes… e os dentes.

Pareciam esfomeados
Fizeram grande escarcéu
Atacaram doidos o cozido
Não fosse acabar o pitéu.

Mas o que é bom sempre acaba
Está escrito e é verdade
Mergulharam na carniça
Esqueceram a sobriedade.

Até que um religioso
Descobre a dita farinheira
E como Colombo excitado
- Eis aqui a índia inteira!

Ergue-se um coro de espanto
Gritam todos os irmões
Se anda aí a farinheira
Onde estão os colhões?

Em vão rapam a travessa
Em busca dos cujos ditos
Porém nada encontram
Queixam-se os padres aos gritos.

Porém se olhassem para a freira
E deixassem de ser lamechas
Logo as bolas descobriam
A chumaçar-lhe as bochechas.

José Carlos S. de Almeida (2008-2017)


domingo, 19 de novembro de 2017

Viva o Dantas! Pobre Dantas...



Fernando Savater, no seu interessante e útil livrinho A Arte do Ensaio - ensaios sobre a cultura universal (Lisboa, Temas e Debates, 2009, 152 pp.) e a propósito de dois compêndios que traçam o perfil da filosofia no século XX escritos por Christian Delacampagne e Remo Bodei (pp. 41-44), lamenta, sem qualquer "vaidade patriótica", que não haja ali referências a Ortega Y Gasset ou Unamuno e que foram pelo menos tão marcantes quanto outros que surgem nos compêndios, citando os casos de Richard Rorty e Derrida (p. 42). Savater refere que em relação a alguns autores, a sua compreensão fica impossibilitada "por três ou quatro fáceis temas de cariz jornalístico que dispensam uma leitura mais atenta dos seus livros" (p. 91). Esta oportuna consideração de Savater vem a propósito do canadiano Marshall McLuhan de quem hoje resta a frase «o meio é a mensagem» e o utilizadíssimo conceito (ou antes, as palavras que o designam) de «aldeia global». E conclui o professor de filosofia basco que "sob esses dois concisos epitáfios, enterrou-se a obra completa de um dos críticos culturais mais inovadores do século XX" (p. 92).
Ora, seria possível uma outra história das ideias, com outros nomes que não aqueles que já fazem parte do cânone? Porquê certos nomes que possam ter reconhecida importância e não outros que foram bem recebidos no seu tempo e acabaram, depois, por cair no esquecimento? Porquê aqueles e não estes? É a história das ideias e dos autores também vítima de certas anedotas, imprevistos, desencontros?
Há um caso concreto que me sugere esta tentativa de reflexão. Toda a gente conhece o Manifesto Anti-Dantas do Almada Negreiros. Todos conhecem a sua exclamação "morra o Dantas, morra, pim!" ou "o Dantas cheira mal da boca" ou ainda "se o Dantas é português, então eu quero ser espanhol!". Enfim, quase toda a gente conhece o Manifesto Anti-Dantas. Poucos conhecem o alvo do chiste. De facto, apenas uma minoria conhece o Dantas, o Júlio Dantas (1876-1962). E pior, o que se sabe do Dantas é o que o Almada Negreiros nos disse e nos deixou. E através do ridículo enojado do Almada, construiu-se a imagem do Dantas, manipulando o seu horizonte de receção. E o Dantas ficou-nos através do Almada. O que sabemos do Dantas? O que o Almada disse e insinuou através do Manifesto. Só que o Júlio Dantas é muito mais do que isso. O Júlio Dantas foi um grande intelectual, médico, político e diplomata, e que até escrevia muito bem, ensaios, romances, peças de teatro. Mas à conta do engraçado texto do Almada, o Dantas ficou, para a maioria de nós, reduzido a um episódio risível, a um motivo de graçola. O que é uma grande injustiça para o Dantas. E haveremos de o resgatar, um destes dias, dos grilhões dessa pilhéria injusta.

Nota final: há aqui suposto um problema que se relaciona com a história das ideias e a construção dos cânones. Além, evidentemente, do amor aos livros e à leitura. Ficam, pois, duas sugestões de leitura, uma para a ansiedade canónica e outra para os amantes dos livros. Os primeiros, com muito tempo livre e os segundos, com a sua falta. Assim, para quem tem muito tempo: Harold Bloom, O Cânone Ocidental, Lisboa, Temas e Debates, 2011, 588 pp. Para quem tem menos tempo: Jacques Bonnet, Bibliotecas Cheias de Fantasmas, Lisboa, Quetzal, 2010, 164 pp.



quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Apontamentos sobre Platão, a alegoria da caverna e o sentido e missão da Filosofia

           
                Apresentação

            A "alegoria da caverna" constitui um excerto do livro VII de A República (514a - 517c) [1], uma das obras mais conhecidas de Platão. Trata-se duma situação descrita por Platão para nos elucidar sobre o que pensa da condição humana relativamente à posse ou ausência de educação e conhecimento. Platão, através do personagem Sócrates, descreve a situação vivida por um grupo de prisioneiros no interior duma caverna, onde estavam acorrentados desde sempre, mantendo-se virados para uma parede onde vêem desfilar sombras de figuras que passeiam fora da caverna que transportavam consigo vários objetos, entre os quais estatuetas. Tudo se altera quando um dos prisioneiros se liberta (com ajuda ou não, não sabemos) e percorre dolorosamente o caminho íngreme e pedregoso que o leva até ao exterior da caverna. Aqui constata que as sombras que viam eram o reflexo de pessoas reais que uma fogueira iluminava, projetando as suas sombras no fundo da caverna. Aos poucos vai observando, com dificuldade pois os seus olhos estavam habituados a viver desde sempre numa quase total escuridão, a realidade exterior. Nomeadamente, a sua própria imagem refletida na água. Até que consegue contemplar diretamente o Sol, fonte de luz e vida. Entretanto resolve regressar ao interior da caverna, para contar aos seus companheiros o que lhe vir e como estavam enganados em relação à realidade. Quando o faz, os seus companheiros acham que ele não está bom da cabeça, que variou com a ida à realidade exterior. E, não aceitando o que ele lhes conta, chegam ao ponto de o quererem matar.
            Várias ideias estão supostas neste conhecido texto de Platão. É possível, a partir da "alegoria da caverna", retirar algumas considerações sobre o papel da Filosofia e do Filósofo. É que nesta perspetiva, como veremos, Platão associa a atividade filosófica à própria atividade educativa que se irá exprimir sob a forma literária do próprio diálogo[2]. É isso que pretendemos fazer. Contudo, vamos primeiro situar a vida e obra de Platão na Grécia antiga e esta no contexto da história e cultura do mundo ocidental.



            A época de Platão

            a) Atenas
            Atenas conhece o seu apogeu cultural, artístico e social nos séculos V-IV a.C., nomeadamente durante a governação de Péricles e que se exercerá de 444 a 431 a.C. Esse apogeu [vds] também assinala a sua supremacia política e económica no mundo grego. O fim da hegemonia política da cidade ática sobre o mundo grego acontecerá no fim do século V; posteriormente, durante o século IV, essa supremacia manter-se-á nos planos económico e cultural. [desenvolver]

            b) A importância da palavra e o prestígio dos Sofistas
            Em Atenas,a palavra e o discurso são fundamentais: na organização política, no governo da cidade, na disputa em tribunal, nos debates nas assembleias. O bom orador consegue melhor os seus objetivos: dominar o auditório, ganhar um processo privado, convencer o interlocutor. "Em Atenas, para existir, é preciso saber falar"[3].
            Daí o prestígio de que gozam os sofistas: vão de cidade em cidade ensinando a arte de bem falar à jovem classe política em ascensão. Eles desenvolvem e ensinam não um verdadeiro saber sobre as coisas, mas tão-só um saber aparente, um saber falar sobre as coisas, adaptando o discurso às circunstâncias, às pretensões dos oradores e às expetativas e desejos do auditório. Por isso, tanto se pode dizer da justiça e do justo uma coisa e, no momento seguinte, o seu contrário. Tanto se pode dizer que ser justo é tratar os outros de forma igual, como afirmar que ser justo não é tratar os outros de forma igual. O que interessa verdadeiramente é o propósito e o efeito que se pretende alcançar com o discurso. A palavra e o discurso acabam por ser acessórios, adereços, instrumentos ao serviço dos interesses políticos privados. A palavra, o logos, já não está ao serviço do ser. Houve um tempo em que falar era dizer o ser das coisas, sem subterfúgios. "Neste período feliz da humanidade, falar era dizer o ser: uma ação dita corajosa merecia realmente louros e uma ação dita virtuosa merecia efetivamente ser louvada. O logos dizia as coisas tal como elas eram e os homens só tinham que se entregar a ele"[4].
            Ora, a Atenas clássica surge-nos aturdida [vds] e baralhada com os discursos que estão ao serviço dos interesses privados e pretendem manipular os auditórios. Os discursos contradizem-se entre si e apresentam-se como verdadeiros apesar de afirmarem tanto uma coisa como o seu contrário. o célebre sofista Protágoras ensina-nos que "o homem é a medida de todas as coisas...". Isto é, o ser das coisas depende do que cada um acha.
            Aos poucos, a flexibilidade e ambivalência da linguagem infetam e contaminam o próprio ser das coisas. Este acaba por se tornar também ambíguo, inconsistente, cinzento. [continua]

            c) A oposição de Sócrates
            A tudo isto se vai opôr Sócrates, que recusa este aviltamento [vds] do logos e do ser. Daí a sua incessante procura das definições das coisas e dos conceitos, um  aspeto essencial nos seus diálogos e que acabam por os dominar e que Platão nos irá revelar. É assim que se interroga sobre o que é a coragem (Lacques), a piedade (Eutîfron), a sabedoria (Cármides) [vm]. Sócrates interroga os seus concidadãos (dialética), não só para colocar em causa o saber aparente que os seus interlocutores possuíam e exibiam de forma arrogante (ironia), como também os conduzia à produção de novos e verdadeiros saberes (maiêutica) através do achamento das definições. Perante os seus concidadãos dominados pela lógica sofística, Sócrates dirige-lhes a mesma interrogação: o que é?, pretende joeirar o seu discurso, afastar as definições (e ideias) contraditórias e inconsistentes [vds]. "Reencontrar o acordo perdido do logos com as coisas é o sentido da procura socrática"[5].

            d) A morte de Sócrates e o seu significado
            Consideram alguns que a filosofia de Platão nasce de um acontecimento escandaloso e traumático para o jovem Platão, com 28 anos na altura: a condenação à morte de Sócrates, ocorrida em 399 a.C. Com efeito, para além do choque que foi a morte do mestre, também é verdade que toda a sua obra é posterior àquela data[6]. Talvez se possa, por essa razão, afirmar que a morte de Sócrates irá ser decisiva no despoletar e sentido da sua obra, pelo menos no que respeita aos primeiros escritos[7]. Platão não poderá deixar de, após o choque inicial, interrogar-se sobre o que levou os atenienses e o seu governo a condenarem aquele que, para lá dos reiterados diálogos, se preocupava em encontrar o logos exato, o dizer rigoroso das coisas e, desse modo, revelar (ou desocultar) o autêntico ser das coisas.

            e) Vida e obra de Platão [desenvolver mais]
            Platão nasceu em Atenas, por volta de 428-427 a.C.
            Em 429 a.C., tinha morrido Péricles, grande político, cujo nome estará para sempre associado ao período de ouro da democracia ateniense. O fim do século V a.C. assinala o fim desse período grandioso, antecedido (431-404 a.C.) pela desgastante guerra do Peloponeso entre Atenas e Esparta. Também neste período, em 425 a.C., ocorre a morte de Heródoto, denominado «pai da História»; em 406 a.C. falecem dois dos três grandes dramaturgos trágicos da Grécia clássica: Sófocles e Eurípides (o terceiro nome seria o de Ésquilo). O comediógrafo Aristófanes morrerá em 385 a. C.
            Em 388 a.C. viajará até Siracusa.
            No ano seguinte fundará a Academia, a sua escola.
            Será depois dos diálogos de juventude[8], que entre 385 e 370 a.C., Platão escreverá os diálogos considerados da maturidade: O Banquete, Fédon, A República, Fedro. Nestes, e sobretudo nos diálogos da velhice (Parménides, Teeteto, Sofista, Político, Filebo, Timeu, Crítias, Leis), o personagem principal continua a ser Sócrates, só que Platão coloca na boca daquele, ideias e propostas que são exclusivamente suas.
Em 367 a.C. e em 361 a.C., Platão deslocar-se-á novamente a Siracusa. Até que se estabeleceu definitivamente em Atenas a partir de 360 a.C., onde morrerá em 347 a.C.


            A Alegoria da caverna

            a) Escuridão e luz, educação e sua falta
            Platão indica, através de Sócrates, qual a sua intenção ao descrever a situação dos prisioneiros: refletir sobre "a nossa natureza, relativamente à educação ou à sua falta". Ora, a educação e a sua falta correspondem a estados mediados pela luz e a sua falta. A falta de educação corresponde à situação dos prisioneiros no interior da caverna. A falta de educação corresponde à falta de luz ou de iluminação, tal como viver na obscuridade é como viver numa ignorância quase absoluta. E não se trata duma ignorância absoluta porque, de facto, os prisioneiros também não vivem na escuridão absoluta; é que, para poderem ver alguma coisa, mesmo sombras, terá sempre que existir alguma réstea de luz (e de esperança); será este resíduo de conhecimento que permitiu que um dos prisioneiros se libertasse ou, pelo menos, caminhasse para a luz. Da escuridão absoluta nada poderia resultar, nenhuma evolução seria possível. Essa centelha de luz pode ser dada pela dúvida, por exemplo. A dúvida é sinal de alguma luz, tal como não duvidar pode ser sinal de uma escuridão absoluta onde se mergulhou. Só duvida aquele que já sabe alguma coisa, mesmo que seja um saber que nada sabe[9].
            Por todas estas razões, o objetivo imediato da educação será a passagem da ignorância ao conhecimento, ilustrado pela metáfora da passagem das trevas à luz, através duma caminhada ascensional.
            Contudo, apesar da quase ignorância total, a realidade para esses prisioneiros não lhes levantava quaisquer problemas, era-lhes evidente (ou elementar, meu caro Watson?). Os prisioneiros tomam por única e verdadeira realidade as sombras que vêem e sempre viram desde que nasceram. Os prisioneiros estão cativos, por isso, das suas crenças, com base nas informações dos sentidos, escudados na sua educação ou na sua falta. Assim, desconhecem a sua situação e condição. Vivem uma situação de dupla ignorância: são prisioneiros que desconhecem que estão presos; desconhecem e ignoram que desconhecem. Tal como o que se passa com o mais escravo dos escravos, que é aquele que não é livre julgando-se livre. Pior que a ignorância é a ilusão, tal como o pior cego é aquele que não quer ver. De qualquer modo, constataremos em Sócrates a existência reiterada duma valorização positiva do reconhecimento da própria ignorância. É que só o ignorante que se reconhece enquanto tal, está predisposto a saber e a conhecer. Aquele que julga que já sabe, ficará por aí, fica imune ao impulso para o saber. A posse arrogante de um pretenso saber não estimula, antes pelo contrário, o sujeito a saber mais. Se já sabe, porque é que há-de querer saber?
            A situação que se vive no interior da caverna descreve a nossa situação. Os prisioneiros representam-nos a nós próprios, representam a própria Humanidade. Tal como eles, também nós vivemos num mundo ilusório, artificial, feito de ecos e de ilusões, de miragens, isto é, de simulacros da realidade. A ilusão é total: estamos assim desde sempre e completamente. Porém, esta prisão também nos garante alguma segurança e conforto. A prisão pode ser a nossa zona de conforto, do não-confronto.
            A educação será, assim, a passagem da ignorância para o conhecimento. A inteligência e o conhecimento processar-se-ão progressivamente, gradualmente, discursivamente. O conhecimento corresponde a uma deslocação do sujeito do ilusório para o mais real, do mais obscuro para o mais luminoso.

            b) O prisioneiro que se liberta
            O prisioneiro que surge liberto dos grilhões (sem sabermos muito bem como isso aconteceu) vai realizar o efetivo caminho ascensional que o leva (ou eleva) do fundo da caverna até ao mundo exterior. Por várias vezes, Platão associa este caminho a um processo doloroso. Doloroso e difícil, não só devido à própria natureza do chão que pisa, mas também devido às dificuldades e dores que sente ao iniciar movimentos, a erguer-se e a caminhar e, depois, a enfrentara  luz. Tudo porque estava a contrariar velhos hábitos: a imobilidade e a obscuridade em que sempre vivera. Toda a sua subida e descoberta vêm contrariar [vds] uma vida que consolidara hábitos e crenças que se instalaram no seu corpo e na sua mente.
            Daí que também se possa dizer que a dificuldade do caminho ascendente também possa remeter-nos para a dificuldade do próprio exercício da liberdade: ter que caminhar com as pernas que nunca caminharam, fazer um caminho caminhando sem qualquer indicação sobre o caminho a seguir. Ou seguindo apenas a via da luz que se anuncia ao fim do túnel...
            A libertação da situação de prisioneiro no interior da caverna irá pressupor uma conversão radical que envolve o corpo (que pela primeira vez se movimenta), o espírito que descobre o mundo para além das sombras e, afinal, o próprio sujeito na sua totalidade, que pela primeira vez se re-flete e vê a si mesmo e, portanto, se descobre, como que pré-anunciando a posteriori a célebre palavra de ordem ou divisa "conhece-te a ti mesmo" do mestre Sócrates, consagrando aí a chamada viragem antropológica da filosofia por comparação com as preocupações naturalistas dos filósofos anteriores.
            Assiste-se, pois, a uma conversão, a um convertere [vm], um voltar-se inteiramente, virando-se para o sítio certo[10]. O processo é doloroso, tal como um parto é doloroso, convocando as dores necessárias para que nasça um novo ser, um homem convertido ao conhecimento, renascido, ou não fosse Sócrates filho duma parteira e de um escultor [vm].
            A conversão de todo o nosso ser suporá uma renúncia ao mundo anterior, às suas convicções antigas, uma dolorosa ruptura. Ou uma saborosa ruptura, tendo em conta a aventura que começa e as descobertas que se anunciam.
            Uma ruptura também em relação à perspetiva que se tinha: os prisioneiros estão presos das vistas que (não) tinham, já estavam virados para uma parede. O prisioneiro que se liberta ganha uma nova perspetiva, um novo olhar que é também olhar para o sítio certo.

            c) O prisioneiro que regressa - o filósofo comprometido
            Depois de ter tomado conhecimento da realidade exterior e reconhecido a sua situação anterior, o prisioneiro que se liberta decide regressar até junto dos seus anteriores companheiros. Podia não ter decidido assim; podia ter optado por permanecer na realidade exterior, de que ninguém duvida que era mais colorida e agradável. Portanto, algo o impele a voltar até ao fundo da caverna e contactar com os outros prisioneiros. De que natureza é esse impulso que o faz regressar?
            Ao que parece, o prisioneiro que se libertara não adquire apenas conhecimento, mas também um certo sentido do dever. Ele não protagoniza apenas um novo conhecimento, mas também um certo sentido do dever, uma certa forma de exercer a ética.
            Provavelmente, devemos concluir que não existe conhecimento sem ética, que são elementos inseparáveis, mesmo que disso não se tenha consciência ou não seja suficientemente claro. O que acontece é que um conhecimento mais autêntico envolve o conhecimento da virtude (aretê), um conhecimento de o que se deve fazer.
            Ora, este prisioneiro que se libertara e atinge um conhecimento superior[11], personifica o filósofo e a missão da filosofia. E o verdadeiro lugar onde o saber se joga, o lugar de destino da filosofia e do filósofo não é uma torre fechada, protegido ou imune do/ao contacto com a realidade, a rua, os desabrigados.
            Existe uma dimensão ética no conhecimento. Que verdade é essa que, depois de adquirida e possuída, não nos leva ao re-encontro com os outros, com os nossos semelhantes? O conhecimento que conduz o seu possuidor a fechar-se aos outros, a encerrar-se em si mesmo num espaço próprio e inacessível, não é um conhecimento elevado, autêntico. Tal como o seu possuidor não merecerá ser conhecedor [vm]. O sábio é, por isso, também, um ser virtuoso, um ser de excelência. Se sabe, se conhece, então também conhece a virtude, o dever de ser solidário. O conhecimento que nos toca, leva-nos aos outros, obriga-nos a essa preocupação com os outros. O prisioneiro que se libertara e que passara pela experiência do conhecimento não pode ficar indiferente em relação aos seus companheiros de infortúnio. Ele não poderia esquecê-los.
            Conhecer implica o dever de regressar até junto dos desafortunados. A filosofia implica, pois, a pólis, a cidade, tal como é implicada pela pólis. Aquele que sabe não pode ficar quieto, antes recebe novas razões para continuar inquieto. Um filósofo nunca está parado, porque permanentemente procura saber e partilhar esse saber. Um filósofo quieto ou aquietado é uma contradição nos termos.

            d) O risco da Filosofia
            Por isso, o indivíduo regressa, mesmo que isso signifique ter que lidar com a ignorância, a indiferença, o escárnio, as ameaças, mesmo ameaças de morte como acaba por suceder. Regressa assumindo o risco. Mas também não houve já quem tivesse pago esse dever com a própria vida? Pagar com a vida o amor ao saber, que é amor aos homens.

            e) A dificuldade de transmitir (certos) conhecimentos
            O regresso significa a verdadeira preocupação com a educação (dos outros). E é com a educação dos outros que se exercita a política.
            Só que a simples transmissão de conhecimentos nunca será suficiente para os homens, para aqueles homens, presos às suas crenças e perspetivas de sempre. Quando se pretende uma alteração de postura e visão do mundo, a aquisição de novos conhecimentos e de uma nova atitude, enfrenta-se a dificuldade de ensinar. É que o conhecimento mais autêntico não é facilmente transmissível. A última mensagem da alegoria tem a ver com o modo como se transmitem conhecimentos. A missão do prisioneiro quando regressa para junto dos outros acaba por não correr bem. Platão sabe disso. E por isso recorre à alegoria. Platão não ensina, sugere, impele o outro para conhecimento, mas espera que seja o outro a realizar o caminho,a  caminhar. O conhecimento verdadeiro e superior não é transmissível; só se pode adquirir experienciando, vivendo a sua dolorosa aquisição. O que o filósofo pode fazer é levar os outros a caminhar, mas nunca descrever um caminho.


Bibliografia

Obras de Platão
Platão, A República, Introd. e trad. de Maria Helena da Rocha Pereira,  Lisboa, F. C. Gulbenkian, 1980 - 3ª ed., 500 pp.
Platão, A Apologia de Sócrates, Introd., notas e versão de Manuel dos Santos Alves, Lisboa, Livraria Popular Francisco Franco, 1985, 82 pp.

Outras obras de consulta
- Alexandre Koyré, Introdução à Leitura de Platão, Lisboa, Ed. Presença, 1979, 132 pp.
- Anthony Kenny, História Concisa da Filosofia Ocidental, Lisboa, Temas e Debates, 1999, 460 pp.
- António Pedro MESQUITA, Introdução ao Estudo da Filosofia Antiga, Lisboa, Edições Colibri, 2006, 249 pp.
- Christophe Rogue, Compreender Platão, Porto, Porto Editora, 2002, 224 pp.
- E. A Dal Maschio, Platão - a verdade está noutro lugar, Lisboa, Cofina Media, 2015, 140 pp.
- Emanuele Severino, A Filosofia Antiga, Lisboa, Ed. 70, 1986, 207 pp.
- F. Cabral Pinto, Sócrates - um filósofo bastardo, Lisboa, Livros Horizonte, 1985, 128 pp.
- Francesco Adorno, Sócrates, Lisboa, Ed. 70, 1986, 166 pp.
- Gaston Maire, Platão, Lisboa, Ed. 70, 1986, 117 pp.
- Giorgio Colli, O Nascimento da Filosofia, Lisboa, Ed. 70, 2001, 101 pp.
- Indro Montanelli, Historia de los Griegos - Historia de Roma, Barcelona, Plaza & Janes Editores, 1976, 634 pp.
- Simone Manon, Para Conhecer Platão, Lisboa, Instituto Piaget, 2001, 170 pp.
- Vasco de Magalhães VILHENA, O Problema de Sócrates - o Sócrates histórico e o Sócrates de Platão, Lisboa, F. C. Gulbenkian, 1984, 596 pp.





[1] Platão, A República, Introd. e trad. de Maria Helena da Rocha Pereira,  Lisboa, F. C. Gulbenkian, 1980 - 3ª ed., pp. 317-321.
[2] "Platão chama «filosofia», amor da sabedoria, à própria indagação, à própria atividade educativa, ligada a uma expressão escrita, à forma literária do diálogo". Cf. Giorgio Colli, O Nascimento da Filosofia, p. 13.
[3] Christophe Rogue, Compreender Platão, p. 10.
[4] Christophe Rogue, op. cit., p.12.
[5] Christophe Rogue, op. cit., p. 13.
[6] Cf. Rogue, op. cit., p. 19.
[7] Será após a morte de Sócrates em 399 a.C. que Platão iniciará a sua produção filosófica, com a escrita dos seus primeiros diálogos: A Apologia de Sócrates, Críton, Protágoras e Êutifron, entre outros.
[8] Cf. nota 7.
[9] Ver aqui o significado da Aufklärung, do movimento das Luzes. E como Kant, em Was ist die Aufklärung, respondia à pergunta. Ora, para Kant, as Luzes eram a saída do homem da sua menoridade, menoridade de que ele próprio era responsável. E concluía com um apelo: Sapere aude! Ousa pensar!
[10] "A educação seria, por conseguinte, a arte desse desejo, a maneira mais fácil e mais eficaz de fazer dar a volta a esse órgão, não a de o fazer obter a visão, pois já a tem, mas, uma vez que ele não está na posição correcta e não olha para onde deve, dar-lhe os meios para isso." (Platão, A República - 518d, ed.cit., p. 323).
[11] Conhecimento superior quer pelo tipo de conhecimento, quer pela natureza dos objetos que aí são conhecidos.