quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Os charutos Monte Cristo ou o que pode a literatura

O que pode signficar um nome? Que histórias se escondem por detrás dum nome? Um nome banal ou inócuo como o dos charutos monte cristo, por exemplo. Atente-se nesta surpreendente história contada por Alberto Manguel em Uma História da Leitura (Lisboa, Ed. Presença, 2010 - 3ª ed., pp. 121 e ss.).
Em meados do século XIX, menos de 15% do operariado cubano não sabia ler. Saturnino Martínez, operário da indústria de charutos e poeta, publicava um jornal para os trabalhadores, La Aurora. Só que enfrentava o problema do analfabetismo. Lembrou-se, então, de criar um leitor público. Foi então junto do diretor do liceu de Guanabacoa propondo que a escola colaborasse na promoção da leitura em voz alta no local de trabalho. O diretor da escola dirigiu-se aos trabalhadores da fábrica de charutos El Figaro e convenceu-os da utilidade da iniciativa. Escolheu-se, então, um trabalhador que seria o leitor, o lector oficial, pago pelo seus restantes trabalhadores para lhes ler enquanto enrolavam os charutos, um trabalho mecânico e cansativo. Em 1866, o jornal La Aurora noticiava a leitura nas oficinas, levando os trabalhadores a familiarizarem-se com os livros, promovendo assim o conhecimento e a amizade. Com efeito, várias fábricas seguiram o exemplo. E foram tão bem sucedidas estas sessões públicas de leitura nos locais de trabalho que acabaram por ser consideradas subversivas.
O material destas leituras era escolhido previamente pelos trabalhadores e ía de panfletos políticos a romances e coletâneas de poesia. Mas tinham os seus favoritos. Entre eles, O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas. Esta escolha tornou-se tão popular entre os operários enroladores de charutos que um grupo de trabalhadores escreveu ao autor, pedindo-lhe autorização para dar o nome do herói do seu romance a um dos seus charutos. Dumas consentiu e nasceram os «charutos Monte Cristo».

Sem comentários:

Enviar um comentário