Este interessante livro do historiador Paulo Drumond Braga
sobre a vida de D. Duarte Nuno
de Bragança (1907-1976) conta-nos a peculiar
vida dum amargurado e deprimido pretendente a um trono que nunca existiu para
além do desejo e dos projetos de monárquicos mais sonhadores e para o qual
nunca se encontrou fadado. Não nasceu para ser rei, pois era o terceiro na
linha de sucessão e apenas surge como pretendente ao trono como resultado de
funestos acontecimentos: a morte do irmão Francisco José, filho de D. Miguel
(II) e de Isabel de Thurn e Taxis, o primeiro casamento do pai e a renúncia de
outro, D. Miguel Maximiliano Sebastião, com a mesma carreira militar, integrado nas incursões monárquicas de Paiva
Couceiro em 1911 e 1912 e durante a Primeira Guerra, que o irmão Francisco
José, sem no entanto ter sido feito prisioneiro como o irmão, que morreu
prisioneiro das tropas italianas. Ocorrências a que se deve somar a morte do pai
quando tinha 13 anos e a morte sem filhos de D. Manuel II, em 1932.
Surgir como pretendente ao trono num contexto nacional e
internacional tão complexo, tendo Salazar e o Estado Novo como oponentes
diretos apesar das suas óbvias simpatias pela situação, tentando gerir, quando
não era vítima, as contradições internas do movimento monárquico, fez deste D.
Duarte Nuno, pai de D. Duarte Pio que todos conhecemos e neto de D, Miguel que
reinou entre 1826 e 1834
O acertado título, Nas
Teias de Salazar, revela bem a interessante história que se desenrola ao
lado do relato sobre a vida de D. Duarte Nuno. É que Salazar ía acalmando as
hostes monárquicas com grande habilidade, revelando alguma condescendência em
relação aos vários pedidos que lhe íam fazendo, o que não deixava de produzir
embaraços por entre aqueles que se opunham ao Estado Novo.
Contudo, o que ressalta da nossa leitura do livro e nos
inspira para outras reflexões, é observarmos a amargura e a saudade dos
exilados monárquicos (entre os mais ilustres, por exemplo, D. Amélia e D.
Manuel II), o modo como exprimem o amor à terra, a nostalgia da paisagem,
justificando incursões rápidas e semi-clandestinas, viagens pelo país em modo
clandestino e protagonizadas por alguns que não resistiam às saudades.
Interessante biografia, cuja leitura me surpreendeu por ser
tão fluída e cativante, está estruturada diacronicamente sem ficar submetida e
limitada por um propósito historicista. Ao mesmo tempo, como que se apresenta
como uma sugestiva e inspiradora proposta de ficção, o que não deixará de
agradar aos amantes do romance histórico.
No fim fica-nos a amargura que perpassa as suas páginas e quando
entramos nos aspetos mais privados e íntimos da vida do biografado e a que não
será estranha a sugestão subtil de estarmos diante de uma personalidade
obsessiva-compulsiva. O que leva o autor a afirmar que D. Duarte Nuno de
Bragança "cultivou um perfil talvez demasiado cinzento e opaco, que em
nada contribuiu para divulgar uma imagem positiva junto dos portugueses"
(p. 312). De qualquer modo, sempre se situará D. Duarte Nuno sob o signo fatal
dum desajustamento essencial que o levará da esperança à desilusão e, depois, à
triste solidão dos últimos anos: a de um inesperado candidato a rei sem trono,
patriota mas longe da pátria durante uma parte significativa da sua vida e que,
finalmente em Portugal, não irá encontrar o acolhimento e a paz que imaginaria
ou lhe tinham prometido.
Paulo Drumond Braga, Nas Teias de Salazar - D. Duarte Nuno de
Bragança (1907-1976) - entre a esperança e a desilusão, Lisboa, Ed.
Objectiva, 2017, 358 pp.
Sem comentários:
Enviar um comentário