terça-feira, 7 de agosto de 2018

Os mexilhões são sempre os mesmos

Sempre que acontece um desastre nacional, descobre-se que alguém ignorou os avisos  da sua eventualidade, esqueceu na gaveta os estudos e os relatórios que permitiriam a compreensão antecipada da situação; sempre que ocorre um desastre nacional, descobre-se que há mortes e feridos que podiam ter sido evitados e não deviam ser agora chorados. Sempre que há um desastre nacional descobre-se que há sempre alguém que lucrou com isso, houve luvas, e ao mesmo tempo vai passeando incólume e sem remorso e até é capaz de fazer coro com os ofendidos, alimentando a tragédia. Sempre que acontece um desastre nacional, aparece sempre alguém apontando um dedo acusador, descobrindo-se depois que afinal também cometeu no passado os mesmos erros e ocultando as mesmas práticas negligentes e que os atuais pecadores estiveram afinal do lado da acusação de então e que todos, pecadores e acusadores, sempre que acontece um desastre nacional dançam as mesmas músicas que sabem tocar sem pauta, porque a melodia está-lhes na massa do sangue. Sempre que ocorre um desastre nacional, sabemos que estamos em Portugal e que os mexilhões são sempre os mesmos, iludidos e adormecidos pelas melodias de sempre do nosso descontentamento.

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