A ética kantiana carateriza-se pelo papel fundamental que o
conceito de dever assume no
centro da sua arquitetura conceptual. Assim, uma
ação valiosa do ponto de vista moral é, segundo Kant, aquela que se realiza
segundo o dever e não conforme o dever. O sujeito moral age segundo o dever, realiza as coisas certas pelos motivos certos. O que se distingue daquele que
age conforme o dever, isto é, poderá fazer as coisas certas mas pelas razões erradas.
Por exemplo, age segundo o dever o comerciante que não engana os seus clientes
porque considera que é assim que se deve agir. Age conforme o dever, por
exemplo, o comerciante que não engana os seus clientes porque teme ser descoberto
e, em consequência, perder a clientela. Estas ações são semelhantes do ponto de
vista externo, mas diferem no princípio que cada um dos sujeitos elegeu como
determinando a sua ação. Complicado?... O meu pequeno pinscher Gipsy dá-nos uma
ajuda!... Outro dia, à noite, enquanto conversava com um vizinho, o Gipsy
resolveu depositar um cocó junto de uma árvore. O meu vizinho aconselhou-me a
não ligar, porque era um cocó insignificante e servia de fertilizante para a
árvore. Era verdade, mas eu achei que devia apanhar o cocó do Gipsy. O meu
vizinho tinha razão, mas eu devia fazer o que era correto. Agi segundo o dever.
Mesmo que o cocó do Gipsy seja biodegradável e ridículo face ao lixo que se
acumula na via pública na freguesia de Benfica, o dever impõe-se ao sujeito
moral, independentemente das consequências irrelevantes das nossas ações. Por
essa razão que, embora o comportamento de alguns deputados não tenha ferido
nenhum dispositivo legal, poderá ser questionável do ponto de vista ético. É
que tudo se passa e resolve na consciência de cada um. Mesmo que se trate de
cocós insignificantes ou de viagens de deputados.Aqui se acoitam mentes brilhantes, almas torturadas e um pobre professor de Filosofia
terça-feira, 24 de abril de 2018
quinta-feira, 19 de abril de 2018
A palavra livro e a palavra balão
Para quem ama os livros, como eu, reconheço que a
palavra Livro não é particularmente bela, à altura da realidade que refere. Não
é uma palavra bem dotada.
A palavra que referisse essa realidade que temos
designado por livro, para já livro, devia ter o significado intrínseco que
encontramos, por exemplo, na palavra balão.
Quando eu digo balão, quando me deparo com a
palavra balão, eu já estou a segurar um balão, um balão que salta, que voa, um
balão cheio de ar, elástico, onde eu, ao agarrar com as mãos, afundo os meus
dedos em garra. Agarro
em garra o balão. Quando eu digo balão eu já estou a agarrá-lo com as mãos. A
apertá-lo. Não se passa isso com o livro. E tenho muita pena. Essa fantástica
realidade que contribuiu ao longo da História para estruturar as sociedades
merecia uma fantástica palavra. E não é o caso.
Era uma palavra muito complicada. Tinha de ter
cheiro. Tinha de ser desfolhada e em cada folha despertar surpresa, energia,
vontade de saber, muita emoção… Deveria ser uma palavra muito distante da que
dispomos.
domingo, 8 de abril de 2018
Um falso engenheiro
Alves dos Reis (1896-1955) |
Cunha Leal, As Minhas Memórias - vol. II, Lisboa, Ed. do autor, 1967, 475 pp.
sábado, 7 de abril de 2018
A rolha do rei da rússia
À noite com o seu gargalo
Que o filho do rei da rolha
O vá com acerto alargá-lo.
E assim consumar-se o casamento
Conforme fora planeado
Na cama os dois impérios brindam
É o final com que o negócio fica fechado.
E do encontro da cortiça com o vidro
Apesar de estranhos e inesperados materiais
Espera-se que um varão sucessor
Aos negócios acrescente algo mais.
E da cabeça do novel varão
Virá nova matéria-prima
Que mesmo não se sabendo o que é
P’lo menos caberá na rima.
sexta-feira, 6 de abril de 2018
A História parece que se repete
Salazar e Gomes da Costa |
Subscrever:
Mensagens (Atom)