Numa das minhas aulas em que
falava aos alunos sobre a verdade e o discernimento, ilustrei o que estava a
dizer com um dito da linguagem quotidiana: "cada macaco no seu
galho". A verdade e a busca da verdade obedeceriam a esse lema. A
verdade implica discernir, recortar a imagem do confuso amontoado de
representações, estabelecer e destacar a nitidez única de cada objeto. Cada
macaco no seu galho para superar a confusão, a indistinção. Desse modo
obteremos uma representação verdadeira. Mais ou menos. O que procura esse
dito? Que não haja dois macacos ou mais num único galho, que estejam, por isso,
bem distribuídos, porque possivelmente essa é a melhor maneira de a árvore
segurar os macacos e se evitar a confusão que resultaria duma distribuição
aleatória dos macacos na árvore. A verdade é também uma maneira de eliminar a
confusão. Na altura, reparei que essa era também a melhor maneira de promover a
paz entre os macacos. Isso queria dizer, que a verdade era necessária para a
paz social, que não podia haver concórdia sem verdade. Ou, dito de outro modo,
não há paz entre os homens sem verdade, sem transparência. Se cada macaco
estiver no seu galho, sabemos quem é que se pendura nos galhos superiores, quem
é que quer ascender na árvore. Assim, evita-se que existam macacos que
simulem desinteresse pelos lugares que ocupam, na exata proporção da sua
pérfida ambição, espreitando uma oportunidade para, calcando no seu parceiro,
elevarem-se nos galhos da árvore ou empurrarem o seu parceiro do lado,
distraído com a visão confusa dos macacos amontoados sem regra.
(Da série As coisas e as palavras)
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