Sempre que passeio os meus cães, tento fazer
justiça à ideia de passeio, de deambulação.
Não nos dirigimos a lado nenhum em
especial, apenas passeamos, disfrutamos o passeio, apreciamos as vistas. O
problema é que, tratando-se de um trio ou de um quarteto, as coisas não são assim
tão fáceis.
O Gorki gosta de flores, o Gaudí procura pauzinhos,
o Gipsy anda sempre à cata de pássaros e a Gaia protege o dono. Cada um
persegue o seu foco de interesses. E, no caso, alguns interesses são mesmo
obsessões. Mal deixamos a porta de casa, cada um quer seguir o seu caminho.
Tento satisfazer todos, mas rapidamente, puxando cada um de acordo com o seu
foco, se instala a confusão e, depois, o impasse. O meu desejo de satisfazer
todos, gera a insatisfação geral. De tolerante ansioso passo a pequeno ditador
irritado. As minhas ilusões inciais redundam em fracasso e deceção. (Mas, onde
é que eu já vi isto?) Contudo, este aparente fracasso encontrou, felizmente,
solução junto dos meus cãezinhos, concretamente junto do Gorki, o nosso cão que
veio para nossa casa um ano após a morte da Lua.
O Gorki não é um cão agressivo, mas antes um cão
muito calmo e pacífico. Porém, porque foi o primeiro a chegar, tem tratado de
explicar muito bem a todos os que foram chegando, quem é que ele era, que
existia um progressivo espírito de matilha, que uma matilha não é um rebanho;
mostrou aos outros todos os espaços da casa, fazendo questão de acompanhar com
uma rosnadela, a distinção entre o que era público e o que era privado. O que
era de todos e o que apenas a ele pertencia. Gorki clarificou desde o início
perante os outros que era ele quem mandava, que era ele quem devia ser seguido.
Estou sempre a aprender com os meus
cães e encontrar com eles as melhores soluções para alguns problemas do
dia-a-dia. Perante os meus impasses e hesitações quando passeamos e quero
agradar a todos, optei por entregar ao Gorki a tarefa de dirigir a matilha e decidi
também começar a seguir o Gorki e a sua incontestada liderança, continuando,
deste modo, enquanto passeio pelas ruas de Benfica, atormentado com os dilemas
da democracia e da tolerância multicultural.
aí está uma decisão sensata - eles sabem que fazem
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