terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

A primeira aula de Filosofia - páginas dum diário dum aluno

A primeira aula de Filosofia
Tive hoje a primeira aula de Filosofia. O professor era mais gordo do que eu estava à espera. E também mais velho, já tinha muitos cabelos brancos. Bem, eram mais os brancos que os outros. Mas tinha o cabelo bem assente, não estava despenteado, devia ser das ideias filosóficas. Sempre pensei que um homem dedicado ao saber e à reflexão deveria ser magro, com os ossos a quererem romper a pele, com olheiras à volta dos olhos encovados, usando uma gabardina sebosa apesar de não estar dia de chuva, e umas peúgas de cada cor. Era assim que imaginava o stor de Filosofia a partir do que me tinham dito os colegas mais velhos. Ora, eu estava profundamente enganado. Nem sempre o que imaginamos se realiza. Se eu encontrasse o meu novo professor de Filosofia atrás dum balcão duma mercearia, a vender açúcar e massa, ou na caixa de um supermercado, teria achado perfeitamente normal. Afinal, era a pessoa mais comum que podia haver! Mas não era nenhuma desilusão, de modo nenhum!...
Talvez fosse isso, ser tão igual aos outros, que fizesse dele um tipo diferente. Quando nós procuramos ser diferentes uns dos outros, originais a vestir por exemplo, acabamos por nos tornarmos iguais aos nossos amigos e colegas. Este profe era tão sem graça, sem nada de especial, no físico ou no aspeto, que devo reconhecer que era diferente dos outros. Era como se quisesse ser invisível, passar invisível. Por isso é que se ouvia tão bem a sua voz...
(Do texto em desenvolvimento, Borbulh@s e Heraclito - diário de um estudante de Filosofia)


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