domingo, 5 de abril de 2020

A origem civilizacional das doenças

"Os historiadores da época não tiveram dúvidas quanto à origem americana da sífilis. A partir de Pinzón e dos outros membros da tripulação que traziam consigo a doença, bem como dos cinco índios que vinham com Colombo, esta depressa chegou a Barcelona, onde ocorreu um primeiro grande surto no ano de 1493. Dessa cidade portuária alastrou à França e à Itália. Um ano depois, quando Carlos VIII de França (conhecido pelo Cabeça Gorda, pelas dimensões do seu crânio) invadiu a Itália e ocupou Nápoles, o exército trouxe consigo verdadeiras legiões de prostitutas e a sífilis alcançou proporções epidémicas.
Se a Europa sofreu com a sífilis do Novo Mundo, isso nada é comparado com aquilo que os indígenas americanos sofreram por causa dos europeus. Doenças como a varíola, o sarampo, a peste bubónica, a difteria, a gripe, a febre-amarela e o tifo em breve dizimaram as populações nativas e conduziram ao rápido desaparecimento de populações inteiras, incluindo os pacíficos e amáveis Tainos, que tão bem tinham recebido Colombo. Quando na sua segunda viagem este chegou ao Novo Mundo à frente de uma armada de dezassete navios, as suas tripulações foram de imediato atacadas pela doença. Em vez de cinco indígenas, a segunda expedição trouxe consigo quinhentos e cinquenta escravos, metade dos quais morreu pelo caminho e os restantes chegaram a Espanha doentes e moribundos. Só na ilha de Hispaniola, onde Colombo fundou a sua primeira colónia, a população, estimada em trezentos mil no ano de 1492, ficou reduzida a metade no espaço de quatro anos. Em 1508 sobreviviam sessenta mil, quatro anos mais tarde não era mais de vinte mil. Por meados do século XVI os Tainos tinham desaparecido por completo.
Neste primeiro contacto, entre o Velho e o Novo Mundo, foi o comércio das doenças que assinalou o intercâmbio colombiano."
James Reston Jr., Os Cães de Deus, Lisboa, Bertrand Editora, 2008, 414 pp.

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