Falar, como o olhar, visa o poder. Falamos e olhamos para
dominar o outro. Porém, o falar
tem um problema: o falar excessivo torna o
discurso numa forma de elementar tagarelice. Entramos no domínio do que os
franceses chamam "bavardage".
Não sei muito bem porquê, mas "bavardage" soa-me a
javardice. O javardo é também um tagarela, alguém que não consegue parar de
falar, de dizer banalidades, baboseiras. Fala tanto, que não consegue fechar a
boca enquanto come. Javardice.
Não pára de falar porque fica incomodado, visivelmente
incomodado, com o silêncio. Quando o silêncio se instala, o tagarela fica
aflito, incomodado, não sabe o que há-de fazer com as mãos, onde pôr as mãos.
À mesa, pega na sardinha com as mãos e leva-a à boca. Faz o
mesmo com a perna do frango assado. Desculpa-se, dizendo que é assim que a
comida (o "comer") lhe sabe melhor. Quer ser autêntico, puro,
dispensa os talheres e as regras mais elementares. Que não alinha em "modernices".
Javardice. Javardice pós-moderna.