Pascal
Bruckner é um filósofo e ensaísta francês, nascido em 1948 e geralmente
associado ao neoconservadorismo europeu[1].
Contudo, o seu percurso, como muitos intelectuais franceses que estiveram
ligados ao grupo dos «nouveaux philosophes» de que fazia parte André Glucksman
e Bernard Henri-Lévy, também teve o seu passado esquerdista, concretamente
ligado ao maoísmo e que, tal como os seus compagnons
de route, desenvolveu uma crítica feroz (ou ressentida) ao marxismo, como
que para expurgar os demónios da adolescência. Percurso que também encontramos
entre muitos políticos e intelectuais portugueses.
De
Bruckner, autor de vasta obra, muitas vezes dedicada a uma reflexão sobre as
relações amorosas na contemporaneidade e outros temas do viver quotidiana,
surgiu em 1983, Le Sanglot de l'Homme Blanc,
e que foi editado entre nós com o título O
Remorso do Homem Branco[2].
Basicamente,
Pascal Bruckner tenta denunciar a má consciência e remorso dos europeus que
procede a um ajuste de contas com o passado colonial do continente europeu.
Demonstra
que há uma evolução política que anima uma certa intelligentsia de esquerda e que vai do anti-colonialismo do
pós-guerra para o terceiro mundismo dos anos 60. Aqueles setores da esquerda
estão, assim, desiludidos com a ausência de perspetivas políticas na Europa,
mas ganham um certo ânimo com o ódio de si, alicerçado na ideia de que o homem
branco é mau, o que vai provocar um desejo de arrependimento e penitência,
abrindo um caminho de expiação militante, apesar de coabitar com a indiferença
da maioria da população face aos países subdesenvolvidos.
É
assim que muitos progressistas europeus estariam dispostos a auto-punir-se e
auto-imolar-se para "resgatarem as obrigações contraídas pelos seus
pais"[4].
Ao
mesmo tempo, esta auto-flagelação do homem europeu elege os EUA como bode
expiatório, um alvo ideal por se tratar ainda dum parente próximo. A América seria
a "filha desnaturada", enquanto a península europeia, para se
libertar da sua má consciência que lhe advinha do seu passado colonial, se
tornava num "novo departamento do Terceiro Mundo"[5]!
Ora,
esta pretensa denúncia das propostas multiculturalistas acaba por ser a sua encapotada
confissão dos seus amores pela economia capitalista e pela cultura burguesa e
conservadora. Não era sem razão que o americano Irving Kristol, outro teórico
do neoconservadorismo, defendia que o problema da economia capitalista não era
uma questão económica mas cultural e que o combate era ainda um combate no
campo ideológico. Por isso (ou para isso) também, modestamente, cá estamos.
[1] Entre nós foi publicado pela Gradiva, em outubro de 2017, Um Racismo Imaginário Islamofobia e Culpabilidade, tradução do original que apareceu em França no início de 2017. Retoma aqui algumas das suas ideias fundamentais contra o multiculturalismo e o racismo dos anti-racistas. Sobre esta última tese, ver aqui.
[2]
Pascal Bruckner, O Remorso do Homem
Branco, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1990, 265 pp.
[3] Cf. Pascal Bruckner, op. cit., p. 31.
[4] Op. cit., p. 32.
[5] Op. cit., p. 37.
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