Pascal
Bruckner é um filósofo e ensaísta francês, nascido em 1948 e geralmente
associado ao neoconservadorismo europeu.
Contudo, o seu percurso, como muitos intelectuais franceses que estiveram
ligados ao grupo dos «nouveaux philosophes» de que fazia parte André Glucksman
e Bernard Henri-Lévy, também teve o seu passado esquerdista, concretamente
ligado ao maoísmo e que, tal como os seus compagnons
de route, desenvolveu uma crítica feroz (ou ressentida) ao marxismo, como
que para expurgar os demónios da adolescência. Percurso que também encontramos
entre muitos políticos e intelectuais portugueses.
De
Bruckner, autor de vasta obra, muitas vezes dedicada a uma reflexão sobre as
relações amorosas na contemporaneidade e outros temas do viver quotidiana,
surgiu em 1983, Le Sanglot de l'Homme Blanc,
e que foi editado entre nós com o título O
Remorso do Homem Branco.
Basicamente,
Pascal Bruckner tenta denunciar a má consciência e remorso dos europeus que
procede a um ajuste de contas com o passado colonial do continente europeu.
Demonstra
que há uma evolução política que anima uma certa intelligentsia de esquerda e que vai do anti-colonialismo do
pós-guerra para o terceiro mundismo dos anos 60. Aqueles setores da esquerda
estão, assim, desiludidos com a ausência de perspetivas políticas na Europa,
mas ganham um certo ânimo com o ódio de si, alicerçado na ideia de que o homem
branco é mau, o que vai provocar um desejo de arrependimento e penitência,
abrindo um caminho de expiação militante, apesar de coabitar com a indiferença
da maioria da população face aos países subdesenvolvidos.
Os
terceiro-mundistas seriam animados por uma "confusa certeza": a da
infâmia do Ocidente.
É
assim que muitos progressistas europeus estariam dispostos a auto-punir-se e
auto-imolar-se para "resgatarem as obrigações contraídas pelos seus
pais".
Ao
mesmo tempo, esta auto-flagelação do homem europeu elege os EUA como bode
expiatório, um alvo ideal por se tratar ainda dum parente próximo. A América seria
a "filha desnaturada", enquanto a península europeia, para se
libertar da sua má consciência que lhe advinha do seu passado colonial, se
tornava num "novo departamento do Terceiro Mundo"!
Ora,
esta pretensa denúncia das propostas multiculturalistas acaba por ser a sua encapotada
confissão dos seus amores pela economia capitalista e pela cultura burguesa e
conservadora. Não era sem razão que o americano Irving Kristol, outro teórico
do neoconservadorismo, defendia que o problema da economia capitalista não era
uma questão económica mas cultural e que o combate era ainda um combate no
campo ideológico. Por isso (ou para isso) também, modestamente, cá estamos.
Entre nós foi publicado pela
Gradiva, em outubro de 2017, Um Racismo Imaginário Islamofobia e Culpabilidade, tradução do original que apareceu em
França no início de 2017. Retoma aqui algumas das suas ideias fundamentais
contra o multiculturalismo e o racismo dos anti-racistas. Sobre esta última
tese, ver aqui.