sábado, 12 de agosto de 2017

Uma questão de boas maneiras

Na mata de Benfica, o grupo que se encontra no parque canino já é considerável. Em número e em
qualidade. Os cães não só nos tornam melhores pessoas, como têm essa extraordinária faculdade de criar amigos: entre eles, entre eles e os donos e entre os donos. Todos eles formam, de facto, uma matilha. Cães e respetivos donos. Foi-se desenvolvendo entre os elementos de cada grupo, como seria natural, um código não escrito de conduta, próprio de cada grupo que se vai desenvolvendo e reforçando os laços entre os seus membros.
Outro dia, o Gorki, o meu príncipe dourado, e o seu amigo Baltazar, um pequeno cão shiba inu, uma raça japonesa primitiva e com qualidades aristocráticas, envolveram-se numa disputa bem educada sobre a posse duma bola. Cada um pretendia ficar com a bola que estava entre os dois. Mas parecia que hesitavam em tomar a iniciativa de abocanhar a bola, como se não quisessem melindrar o outro. Era como se aquilo que se interpunha entre eles fosse também uma questão de boas maneiras.
Estiveram assim, imóveis, olhando um para o outro e para a bola. Isto passou-se durante quase um minuto. Ninguém se resolvia. Até que o pequeno Gipsy, vindo de trás, fazendo apelo ao seu espírito pragmático, lhes sacou a bola e raspou-se a correr, mal segurando a bola entre os dentes, deixando os outros a olhar para ele.
É que a questão das boas maneiras, nem sempre resulta nas maneiras boas.

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