Na
mata de Benfica, o grupo que se encontra no parque canino já é considerável. Em
número e em
qualidade. Os cães não só nos tornam melhores pessoas, como têm
essa extraordinária faculdade de criar amigos: entre eles, entre eles e os
donos e entre os donos. Todos eles formam, de facto, uma matilha. Cães e
respetivos donos. Foi-se desenvolvendo entre os elementos de cada grupo, como
seria natural, um código não escrito de conduta, próprio de cada grupo que se
vai desenvolvendo e reforçando os laços entre os seus membros.
Outro
dia, o Gorki, o meu príncipe dourado, e o seu amigo Baltazar, um pequeno cão
shiba inu, uma raça japonesa primitiva e com qualidades aristocráticas,
envolveram-se numa disputa bem educada sobre a posse duma bola. Cada um
pretendia ficar com a bola que estava entre os dois. Mas parecia que hesitavam
em tomar a iniciativa de abocanhar a bola, como se não quisessem melindrar o
outro. Era como se aquilo que se interpunha entre eles fosse também uma questão
de boas maneiras.
Estiveram
assim, imóveis, olhando um para o outro e para a bola. Isto passou-se durante
quase um minuto. Ninguém se resolvia. Até que o pequeno Gipsy, vindo de trás,
fazendo apelo ao seu espírito pragmático, lhes sacou a bola e raspou-se a
correr, mal segurando a bola entre os dentes, deixando os outros a olhar para
ele.
É que a questão das boas maneiras, nem sempre resulta nas
maneiras boas.