quarta-feira, 4 de julho de 2018

Refugiados - o que dizem os números


Este problema das migrações em massa que agora preocupa a Europa e que foi objeto da última cimeira europeia em Bruxelas, dominada pelas ameaças de bloqueio por parte da Itália e das peculiares posições de Hungria e da Polónia, enquadrada no que poderíamos designar por deslocações em massa, já aconteceu na Europa, nomeadamente no seguimento do fim da Segunda Guerra Mundial. E aí, os números são impressionantes. Só na Alemanha registaram-se 17 milhões de de pessoas deslocadas e na Europa, considerada como um todo, observou-se a deslocação pela força durante a guerra, de mais de 40 milhões de pessoas[3]. O desaparecimento de comunidades estáveis, mal contidas nos territórios que foram sendo definidos por conveniências conjunturais leva à conclusão de que a Europa "já não era uma constante fixa" e passara a ser instável e transitória[4]. Estas deslocações de grande massas de população parecem ser uma constante na história recente da Europa.
Por outro lado, o que nos dizem os números sobre as recentes deslocações de refugiados que chegaram à Europa? É um número significativo? É que estamos a falar de menos de 1% da população total da União Europeia! Dramática é a situação, por exemplo, do Líbano, que alberga quase 1,2 milhões de refugiados sírios. Ora, o Líbano é um país com uma população total de cerca de 4,5 milhões de pessoas...[5]
Perante estes números e o seu real significado, não estaremos diante dum problema cuja solução se quer adiar na medida em que a crise dos refugiados está claramente a render votos aos partidos populistas e de extrema-direita? Não é por acaso que o partido de Salvini regista já uma subida nas sondagens de 8% nas intenções de voto em relação ao resultado obtido mas eleições de 4 de março. Perante um problema que traz tantos benefícios para os políticos conservadores que estão à frente da União Europeia, donde é que poderá vir um esboço de solução?



[3] Cf. Keith LOWE, Continente Selvagem - a Europa no rescaldo da segunda guerra mundial, Lisboa, Bertrand Editora, 2013, p. 55.
[4] Op. cit., p. 61.
[5] Patrick Kingsley, A Nova Odisseia - a história da crise europeia dos refugiados, Lisboa, Relógio D'Água, 2016, p. 18