Este
problema das migrações em massa que agora preocupa a Europa e que foi objeto da
última cimeira europeia em Bruxelas, dominada pelas ameaças de bloqueio por
parte da Itália e das peculiares posições de Hungria e da Polónia, enquadrada
no que poderíamos designar por deslocações em massa, já aconteceu na Europa,
nomeadamente no seguimento do fim da Segunda Guerra Mundial. E aí, os números
são impressionantes. Só na Alemanha registaram-se 17 milhões de de pessoas
deslocadas e na Europa, considerada como um todo, observou-se a deslocação pela
força durante a guerra, de mais de 40 milhões de pessoas[3]. O
desaparecimento de comunidades estáveis, mal contidas nos territórios que foram
sendo definidos por conveniências conjunturais leva à conclusão de que a Europa
"já não era uma constante fixa" e passara a ser instável e transitória[4]. Estas
deslocações de grande massas de população parecem ser uma constante na história
recente da Europa.
Por
outro lado, o que nos dizem os números sobre as recentes deslocações de
refugiados que chegaram à Europa? É um número significativo? É que estamos a
falar de menos de 1% da população total da União Europeia! Dramática é a
situação, por exemplo, do Líbano, que alberga quase 1,2 milhões de refugiados
sírios. Ora, o Líbano é um país com uma população total de cerca de 4,5 milhões
de pessoas...[5]
Perante
estes números e o seu real significado, não estaremos diante dum problema cuja
solução se quer adiar na medida em que a crise dos refugiados está claramente a
render votos aos partidos populistas e de extrema-direita? Não é por acaso que
o partido de Salvini regista já uma subida nas sondagens de 8% nas intenções de
voto em relação ao resultado obtido mas eleições de 4 de março. Perante um
problema que traz tantos benefícios para os políticos conservadores que estão à
frente da União Europeia, donde é que poderá vir um esboço de solução?
[3] Cf. Keith
LOWE, Continente Selvagem - a Europa no
rescaldo da segunda guerra mundial, Lisboa, Bertrand Editora, 2013, p. 55.
[4] Op. cit., p. 61.
[5] Patrick
Kingsley, A Nova Odisseia - a história da
crise europeia dos refugiados, Lisboa, Relógio D'Água, 2016, p. 18