Sempre
me questionei sobre o que é ser europeu. Olhava para os ingleses, para os
franceses e para os
italianos ou alemães e interrogava-me sobre o que haveria de comum entre nós para que nos pudéssemos afirmar enquanto cidadãos europeus.
italianos ou alemães e interrogava-me sobre o que haveria de comum entre nós para que nos pudéssemos afirmar enquanto cidadãos europeus.
Reparo
que aqueles que escolhi estarão mais próximos de nós. Exclui,
inconscientemente, dinamarqueses, suecos ou finlandeses, os europeus do norte.
A dificuldade de haver algo em comum enquanto europeus seria de certeza maior.
Mas, então, que dizer daqueles que vêm da Europa do Leste, romenos, búlgaros,
húngaros, sérvios? O que temos em comum?
Nos
últimos anos, a problemática em torno do que é ser europeu agudizou-se.
Agudizou-se dramaticamente com a chegada ao poder de políticos populistas e de
extrema-direita, xenófobos, nada interessados em acolher os outros que não são
europeus. Mas, o que é então ser europeu para esses políticos? Que valores
envolve a cidadania europeia?
Reconheço
que sabemos pouco da sua história e da sua geografia instável. Essa
instabilidade entre etnias, povos e nações, mal contidos em fronteiras
desenhadas num clima de ressentimento e no rescaldo dos maiores conflitos
bélicos que assolaram o continente europeu, dificulta esse conhecimento. Sei
pouco sobre essa outra Europa, os compêndios escolares de História excluiram
essa outra Europa, a História Universal desenhou-se sobretudo a ocidente e
através do mundo descoberto por esse ocidente.
Já
há algum tepo que decidi estudar e conhecer um pouco mais essa outra Europa.
Provavelmente vou fazê-lo no pior período que a Europa está a atravessar. Mas
talvez seja o momento mais estimulante, o momento em que a crise agudiza o
nossos entido crítico.
Como
pensar a Europa? Por onde começar? O historiador Keith Lowe, no seu
interessantíssimo livro Continente
Selvagem - a Europa no rescaldo da Segunda Guerra Mundial[1],
começa por nos dar um dado importante: é que a guerra não terá terminado com a
derrota de Hitler. Até refere o caso de alguns polacos para quem a segunda
guerra mundial, tendo começado com a invasão do seu país tanto pelos nazis como
pelos soviéticos, só teria terminado com a partida dos tanques soviéticos do
seu país, em 1989.
Quer
dizer, a guerra continuou, sob outras formas, porventura mais subtis, para depois de 1945. Continuou até
quase ao fim do século vinte! O que aconteceu entretanto? Como foi vivido esse
período? Lowe ensaia uma resposta: "o fim da guerra não significou o
nascimento de uma nova era de harmonia étnica na Europa"[2]. Com
efeito, os ressentimentos entre comunidades e nações continuaram e talvez isso
nos ajude a compreender melhor os problemas com que nos debatemos hoje. Um
problema mal resolvido é um problema que se tornou maior.