Porque razão recorre Platão a uma alegoria,
nomeadamente, no caso da «alegoria da
caverna" em que descreve a situação
dos prisioneiros que vivem acorrentados no interior duma caverna?
Julgamos que a resposta é-nos dada na própria
alegoria. Com efeito, o prisioneiro ao regressar ao interior da caverna para
junto dos seus companheiros, vai defrontar dificuldades que até colocam em
perigo a sua vida. Independentemente de Platão evocar aqui a figura de
Sócrates, o que também nos quer dizer é que existem determinados ensinamentos
que não se podem transmitir diretamente, mas apenas com recurso a uma alegoria.
Ora, esta ideia, também nos é sugerida na própria
Bíblia, concretamente no Evangelho segundo Mateus.
Com efeito, semelhante às alegorias, encontramos
na Bíblia, por inúmeras vezes, o recurso às parábolas. No capítulo 13 do
Evangelho de Mateus[1],
são referidas várias parábolas: a do semeador, do trigo e do joio, do grão de
mostarda, de tesouro e da pérola, da rede. E no mesmo capítulo, explica-se
porquê o recurso às parábolas. Em 13:10, os discípulos interpelam Jesus
diretamente, perguntando "porque razão lhes [as multidões] falas em parábolas".
E Jesus esclarece que a eles foi-lhes dado conhecer os mistérios do reino dos céus
e aos outros não. E Jesus explica-lhes que as multidões "vendo não veem e ouvindo
não ouvem nem compreendem" (Mateus 13:13).
É que há ensinamentos
que apenas se atingem metaforicamente, para que cada um, à boleia da imagem e nos
braços da sua própria mente, realize o percurso que os leva aos mistérios e a realidades
superiores. Mais essencial do que a palavra que diz, é a palavra que sugere; a palavra
que não descreve, mas aponta.