Os meus cães tal
como acontece com todos os animais, tornam-nos pessoas melhores. Também nos dão
algumas lições. Curiosamente, ajudaram-me a compreender melhor um assunto que
foi abordado, embora de passagem, numa das minhas aulas de Filosofia, agora
neste meu regresso ao ensino e à minha nova escola, a Escola Secundária de Vergílio
Ferreira. Falou-se numa das aulas e a
propósito da alegoria da caverna de Platão, de parábolas e, em concreto,um dos
alunos descreveu a parábola bíblica do filho pródigo (Lucas15:11-32). Na altura,
também compreendi e comunguei da admiração
e alguma indignação do irmão do
filho pródigo que não percebia como é que o pai celebrava efusivamente o
regresso do filho pródigo, o que nunca teria acontecido com ele, quando,
afinal, ele ficara ao lado do pai, cumprindo todas as suas obrigações, não se
metendo em aventuras de prodigalidade, antes revelando temperança no seu
comportamento.
Porém, o filho
pródigo, ao regressar, teve direito a um banquete, algo que nunca tinha
acontecido com o cumpridor irmão. Na aula, tentou-se justificar a celebração do
regresso do filho pródigo, mas eu não fiquei convencido. Até ao momento em que algo
aconteceu com os meus cães, quando dávamos o nosso passeio diário na quinta
junto da nossa casa.
Eu passeio-os à tarde, mas
depois solto-os. Andam mais ou menos à vontade por onde querem até eu chamá-los.
Quase sempre regressam aquando do meu chamamento, mas o Gaudí, o mais novo,
demorou, dessa vez, mais tempo a regressar. O Gorki, o mais velho, é muito
obediente e vem sempre imediatamente para junto de mim. Ora, desta vez, O Gaudí
não regressou logo. Chamei-o várias vezes,mas ele não apareceu. Claro que
comecei a ficar preocupado, pois nem sequer estava a vê-lo. Até que, já estava
a ficar desesperado pois tinham passado alguns minutos e eu continuava a não
vê-lo,finalmente, o Gaudí apareceu a abanar a cauda. Veio até junto de nós e,
como é evidente, a minha primeira reação foi repreendê-lo. Mas era imensa a
minha alegria ao vê-lo de novo. Estava tudo perdoado. A felicidade acontece por
várias razões. Algumas nem sequer são nada racionais. O que interessava mesmo é
que o Gaudí tinha voltado e eu estava de novo feliz. Foi nesse preciso momento
que compreendi a alegria do pai no momento do regresso do filho do pródigo,
para além de todas as asneiras e dos maus caminhos por onde tivesse andado. Não
é de celebrar efusivamente o regresso daquele que se afastou ou se perdeu e
soube regressar ao seio dos que o amam?