quarta-feira, 27 de setembro de 2017

PARÁBOLAS E ALEGORIAS - porquê o recurso a parábolas e alegorias - A propósito da alegoria da caverna de Platão

Porque razão recorre Platão a uma alegoria, nomeadamente, no caso da «alegoria da
caverna" em que descreve a situação dos prisioneiros que vivem acorrentados no interior duma caverna?
Julgamos que a resposta é-nos dada na própria alegoria. Com efeito, o prisioneiro ao regressar ao interior da caverna para junto dos seus companheiros, vai defrontar dificuldades que até colocam em perigo a sua vida. Independentemente de Platão evocar aqui a figura de Sócrates, o que também nos quer dizer é que existem determinados ensinamentos que não se podem transmitir diretamente, mas apenas com recurso a uma alegoria.
Ora, esta ideia, também nos é sugerida na própria Bíblia, concretamente no Evangelho segundo Mateus.
Com efeito, semelhante às alegorias, encontramos na Bíblia, por inúmeras vezes, o recurso às parábolas. No capítulo 13 do Evangelho de Mateus[1], são referidas várias parábolas: a do semeador, do trigo e do joio, do grão de mostarda, de tesouro e da pérola, da rede. E no mesmo capítulo, explica-se porquê o recurso às parábolas. Em 13:10, os discípulos interpelam Jesus diretamente, perguntando "porque razão lhes [as multidões] falas em parábolas". E Jesus esclarece que a eles foi-lhes dado conhecer os mistérios do reino dos céus e aos outros não. E Jesus explica-lhes que as multidões "vendo não veem e ouvindo não ouvem nem compreendem" (Mateus 13:13).
É que há ensinamentos que apenas se atingem metaforicamente, para que cada um, à boleia da imagem e nos braços da sua própria mente, realize o percurso que os leva aos mistérios e a realidades superiores. Mais essencial do que a palavra que diz, é a palavra que sugere; a palavra que não descreve, mas aponta.


[1] Bíblia - volume I, trad. Frederico Lourenço, Lisboa, Quetzal, 2016, pp. 102-103.

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