sábado, 5 de agosto de 2017

O meu cão Gipsy, a inteligência e o pensamento de Edgar Morin

Todos os donos consideram que os seus cãezinhos são muito inteligentes. Que eu me lembre, acho que só encontrei uma simpatiquíssima senhora alemã que vivia perto de Sintra e criava cães que nos disse que os seus cães da raça Basset Hound eram muito pouco inteligentes. Foi uma exceção. Todos dizem do seu cão que ele é muito inteligente, que só lhe falta falar. Não se sabe é para que é que falta falar: se para cantar uma área de ópera, para declamar os Lusíadas ou para discursar nos festejos do 10 de junho. Ora, eu também me vou juntar ao clube dos orgulhosos donos de cães que acham que os seus animais rivalizam com o Einstein. Então, é assim: o meu Gipsy, acompanhando os seus manos, é muito inteligente. Só que é possível explicar com alguma ciência porque é que o Gipsy é muito inteligente.
Ao contrário de alguns cães que cresceram num ambiente protetor e acolhedor, o meio hostil e ameaçador onde o Gipsy nasceu e passou o seu primeiro ano de vida acabou por constituir um meio pressionante que, à força de muitos e variados estímulos e imprintings, estimulou o seu desenvolvimento, quer a nível físico, quer a nível, digamos, intelectual. A estimulação de um meio agressivo como era o do bairro onde vivia o pequeno Gipsy, a falta de condições, a precariedade de recursos, as constantes ameaças que o espreitavam (Gipsy vivia na rua), tornaram-no mais desenrascado, mais atento, mais rápido nas decisões (ai, como eu o invejo!...).

Este caldo de condições que pressionam o desenvolvimento das capacidades intelectuais já fora teorizado por Edgar Morin em O Paradigma Perdido, quando analisa as consequências para o homo sapiens e para o desenvolvimento das suas faculdades e do aumento da capacidade da caixa craniana aquando da passagem da floresta protetora para a savana desabrigada.
O Gipsy, o meu pequeno Gipsy, é um sobrevivente, que foi obrigado a percorrer no aperto de um ano, as agruras e peripécias evolutivas da sua espécie ao longo de milhares de anos. Gipsy realizou de forma condensada as várias etapas da seleção natural. Ou melhor, no caso do Gipsy, poderíamos dizer que ele acabou por saltar etapas! Gipsy não chegou a viver no abrigo da floresta que o escondia dos seus inimigos. O Gipsy sempre viveu na desabrigada savana, à vista e ao alcance dos outros predadores!

É assim que posso concluir que o se o Gipsy encontrasse a parceira indicada e não lhe faltassem já alguns dos instrumentos da sua masculinidade, não tenho dúvidas que daria início  uma nova raça de cães sobredotados, que ao fim de algumas gerações acabaria por dominar o planeta. A minha fé no meu Gipsy é enorme, tal como a minha descrença em relação a Donald Trump, os seus descendentes e acólitos. E a ciência está aí para o confirmar.

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